Lição número um a retirar de The Meyerowitz Stories (New and Selected), novo filme de Noah Baumbach “estreado” recentemente no Netflix, sem passagem prévia por sala: Adam Sandler, quando não está ocupado a ser uma caricatura de si próprio, o que acontece numa muito generosa fatia da sua filmografia, parvoeira desmedida atrás de parvoeira desmedida, consegue ser um ator capaz, e até um ator comovente. Já o sabíamos, claro, e o exemplo mais fácil e imediato é o de Embriagado de Amor, aquele doce de Paul Thomas Anderson de 2001 no qual Sandler fugia da sua persona patética do costume, mas é fácil esquecê-lo tal o número de pateguices à qual habitualmente cola o seu nome.
A menor escala, podemos dizer o mesmo de Ben Stiller, esse já na terceira colaboração com Baumbach (após Greenberg e While We’re Young). A carreira de Stiller tem sido feita de baixos menos baixos que a de Sandler, talvez, mas é difícil desassociá-lo de um certo lado “mínimo denominador comum” da comédia de Hollywood, e é bom vê-lo em algo que lhe pede um pouco mais que o habitual. Nesse sentido, este The Meyerowitz Stories é um pouco um filme de resgates: também Dustin Hoffman, aqui no papel de um patriarca a contas com um passado menos glorioso do que gosta de imaginar, tem baloiçando recentemente entre papéis esquecíveis, e podemos talvez dizer o mesmo de uma excelente atriz como Emma Thomson.
Mais um filme neste ano com uma relação fraternal no centro (os personagens de Sandler e Stiller são dois meio-irmãos desavindos que vivem em lados opostos do país, o primeiro um loser nova-iorquino “que nunca trabalhou” e o outro um homem de negócios de Los Angeles, bem sucedido mas olhado com algum desdém pelo pai e pelo meio-irmão por não ter seguido uma profissão mais criativa), The Meyerowitz Stories não se afasta grandemente da velocidade de cruzeiro habitual de Baumbach, nem do seu ponto de conforto – histórias familiares de uma certa classe nova-iorquina -, ainda que seja, valha-nos isso, menos insuportavelmente hipster cool do que filmes como Frances Ha e While We’re Young – Greta Gerwig, por uma vez, não faz parte do elenco e Adam Driver, que já vimos este ano no magnífico Paterson, de Jim Jarmusch, apenas pica o ponto durante um par de minutos, graças a Deus.
O maior elogio que se pode fazer a The Meyerowitz Stories é que este poderia, com a sua história de confrontos e neuroses familiares em Nova Iorque, passar por um filme de Woody Allen, embora mesmo um Woody Allen em baixo de forma consiga pôr nos seus filmes um par de frases bem cinzeladas às quais Baumbach pode apenas aspirar. Woody Allen vive neste momento à conta de um passado notável, lançando incessantemente filmes que ficam longe das glórias do século passado; de Noah Baumbach, que não tem nem de perto nem de longe um historial do mesmo calibre, ainda estamos à espera de um filme que lhe valha a carreira.
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