Foi no passado dia 26 de Junho, na 75ª Reunião Anual Geral de Accionistas Nintendo, que teve lugar uma sessão de Perguntas e Respostas com o presidente da gigante nipónica, Satoru Iwata. Este abordou algumas questões relativamente à estratégia da companhia para o futuro – o que, aqui entre nós que ninguém nos escuta, é uma absoluta necessidade, depois de não ter conseguido estar a par do fluxo gigantesco de novidades e tecnologias de ponta apresentadas na E3 deste ano.
A questão mais urgente prende-se, justamente, com os rumores sobre a nova plataforma de jogos, a NX, bem como o novo programa de aderentes. Sobre esta, Satoru é peremptório: “as próximas novidades relativas à NX não serão anunciadas durante 2015, mas sim durante 2016“. Assim que não vai ser ainda este ano que teremos uma nova consola Nintendo. Jogada inteligente, tendo em conta que Mario Maker (que tive oportunidade de observar ao vivo na sede da Nintendo Portugal), Splatoon e o Yoshi: Wooly World deverão aguentar o forte. Já o Star Fox deixou-me muito mais reticente. No entanto, desengane-se quem achar que isto é suficiente: Estamos em ano do tudo ou nada para a Microsoft e Sony.
As tecnologias mais fracturantes de ambas as empresas na área da realidade virtual e aumentada já entraram em jogo. O Hololens tem a capacidade de se tornar, em conjunto com a Internet das Coisas, um dos conceitos Sci-fi mais populares e importantes dos próximos 5 anos. A Nintendo, contra isto, tem apenas as armas do costume. Esperemos que, por todo o historial que a marca tem e a importância fulcral na indústria, sejam ainda o suficiente para um consumidor cada vez mais desgastado com “mais do mesmo” e pronto a consumir, mais do que jogos excelentes, experiências diferenciadoras – como tem sido o Minecraft há vários anos, por exemplo.
Relativamente à estratégia Nintendo para o mercado dos jogos mobile, o presidente nipónico afirma que, “sendo que a Nintendo é uma companhia que deseja ver valorizados os seus jogos pelos consumidores, mantendo o valor dos mesmos o mais elevado possível, não queremos utilizar uma terminologia de ‘free-to-play’, que implica poderem jogar de graça. Ao invés disso, utilizamos o termo ‘free-to-start’, visto que descreve, com maior precisão, que no início podem iniciar o jogo de graça.” Assim, a Nintendo está a tentar construir aplicações que apelem a uma variedade ampla de pessoas, para que os jogos consigam lucrar grandemente, sem que isso signifique uma grande sobrecarga monetária para cada jogador individual.
No fundo, é a desconstrução mais corporativa do modelo utilizado por tantas outras companhias de gaming mobile. O jogo, inicialmente, não é pago. Contudo, a sua continuação terá que ser adquirida através de uma pequena quantia, o que, para Iwata, significa que mesmo que “um consumidor faça um pagamento relativamente pequeno, graças à enorme base de consumidores, o jogo consiga gerar mais lucro.”
Só o tempo o dirá se esta aposta no mercado mobile passará de uma novidade para a tendência na indústria, mas as companhias japonesas estão a começar a aperceber-se das potencialidades de negócio deste espaço. Para além da Nintendo, já a Konami também reafirmou a sua intenção em dedicar a maior fatia do seu investimento no mercado mobile. Contudo, e como acérrimo defensor da mobilidade, a indústria dos videojogos sairá, inevitavelmente, fragilizada da propagação em massa destes novos modelos.
Se o crash dos anos 80 nos ensinou alguma coisa, foi que o que é demais enjoa. E a qualidade a que companhias como Konami e Nintendo nos habituaram podem não ter a mesma repercussão num jogo cujo objectivo de negócio é convencer o consumidor a abdicar das inúmeras experiências gratuitas que tem disponível para adquirir os produtos da marca – e creio que nem nomes como Mario ou Link poderão ser fortes o suficiente para evitar uma sobrecarga do mercado. A ver vamos.
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