Para todos os aficionados dos videojogos (como eu), Junho é um mês fulcral – não porque marca a chegada do Verão propriamente dito, mas porque anuncia a chegada da maior feira de videojogos do mundo, a E3.
Este ano será marcado, sem sombra de dúvidas, pela conferência da Sony. O core messaging da marca, aliás, afirma que os jogadores vêm primeiro, os programadores são o coração e a alma da indústria, e a inovação, conhecimento e emoção são cruciais para os jogos, que estão eles próprios a conduzir a mudança cultural. Era difícil não ver isto apenas como puro marketing ontem. Hoje? Apenas o confirmar do estatuto da Playstation como a próxima campeã indisputável desta geração.
Mas por onde começar?
É difícil imaginar um jogo mais aguardado do que o The Last Guardian, um título cuja beleza e riqueza de narrativa se mostrou evidente em apenas breves minutos de demonstração de gameplay, há alguns anos atrás. Efectivamente a expectativa tinha completamente desaparecido, bem como a esperança de que este jogo pudesse ver a luz do dia. Bom, ontem foi apresentado oficialmente, com lançamento previsto para a PS4™ já em 2016.
A partir daqui, o mote estava dado. Apesar da apresentação de diversos títulos que prometem imenso agitar as águas nos próximos tempos (Horizon Zero Dawn e Dreams chamaram-me muito a atenção), ainda não era o suficiente para esquecer a apresentação da Microsoft, o Minecraft a funcionar com Hololens e a retrocompatibilidade com Xbox 360. Era necessário algo mais forte.
A Sony comprometeu-se a ouvir os jogadores e a dar-lhes uma experiência para eles: nas suas palavras, #ForThePlayers. Portanto, o que poderia chamar ainda mais a atenção da sua base de fãs?
Midgar. Shinra. A música completamente orquestrada do grande Nobuo Uematsu. A mão armada de Barret. Cloud. Final Fantasy VII. Remake.
Não o port do jogo original para a consola. Não. Um remake. Que será lançado, primeiro, na PS4. Quem acompanha este mundo desde os anos 90 sabe perfeitamente que o remake do Final Fantasy VII é uma história de amor / ódio com muitos, muitos episódios. Petições, cartas, ameaças de boicote – a vontade era gigante, mas tal como o The Last Guardian, a esperança foi decrescendo.
Até hoje. Falamos de um compromisso por parte da Square-Enix, longe dos seus tempos áureos de relação com o público, a criar o seu maior desafio em anos. Este é, provavelmente, a par do Ocarina of Time da Nintendo, um dos 10 jogos mais influentes de sempre. A tarefa de o recriar completamente será hercúlea. Se falharem, nada mais poderá resolver a relação com o seu público. Mas se conseguirem capturar a essência do clássico de 1997…
Nesta altura já ninguém queria saber do Uncharted 4, que promete ser um dos grandes títulos vindouros. Tem gráficos excelentes, sim. Mas não é o criador de buzz automático que é um remake do Final Fantasy VII. A esta altura do campeonato, já tudo era esperado. Esta conferência já tinha tudo para entrar nos anais da E3 como uma das mais importantes. Mas a Sony não se queria ficar por aí. Não. Só havia um título que podia criar mais emoção do que o The Last Guardian ou um remake à séria do Final Fantasy VII.
“Oh, que tal pegar num dos maiores fenómenos de culto que esta indústria já viu e finalmente tratar da sua possível criação?”
Sim – em noite de sonho, o kickstarter para o Shenmue III foi oficialmente apresentado. Em termos de imagem pública, melhor é impossível para a Playstation. Pessoas rejubilavam nas redes sociais. No YouTube. As pessoas na audiência choravam (!) de emoção.
O que aconteceu na E3 era o equivalente ao Benfica anunciar a contratação do Mourinho, com o Ronaldo, Messi, Neuer Pogba e Chiellini a acompanharem-no. Mais do que isso, o que aconteceu na conferência foi exactamente aquilo que a Sony prometeu: uma conferência para os jogadores. Fica assim provado que não são necessárias grandes tecnologias irreverentes, gadgets futuristas ou realidades aumentadas. Basta apenas dar ao consumidor aquilo que o consumidor quer – Os seus jogos favoritos.
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