Três neurocientistas dividirão o Prêmio Nobel de fisiologia ou medicina de 2014 por terem descoberto como o cérebro cria um mapa do espaço que nos rodeia e como os animais navegam por ambientes complexos, anunciou o Comitê Nobel nesta segunda-feira (06) em Estocolmo, na Suécia.
Metade do prêmio será entregue a John O’Keefe, da University College London, pesquisador que descobriu, em experimento de 1971, as “células de lugar”, células nervosas do hipocampo — região do cérebro fundamental para a formação de memórias — que se ativavam quando um rato se encontrava em determinado lugar dentro de um espaço. Observando sinais emitidos por células nervosas individuais do roedor enquanto este vagava pelo cercado, O’Keefe notou que células específicas se ativavam quando o rato estavam em partes específicas do espaço, concluindo que o hipocampo pode se basear nessas células para mapear o ambiente e criar um “GPS cerebral”.
Décadas depois, em um conjunto de artigos publicados entre 2004 e 2006, o casal de cientistas May-Britt e Edvard Moser (alunos de pós-doutorado de O’Keefe), da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia em Trondheim, descobriu um grupo de células do córtex entorrinal, área cerebral vizinha do hipocampo, chamado pelos pesquisadores de “células de grade”. As células de grade auxiliam o posicionamento espacial dos animais agindo como representações das ruas de uma cidade em um mapa: mesmo durante a noite, tais células agem no reconhecimento da posição atual da cabeça do animal e das bordas de um espaço.
Por seus achados, May-Britt Moser e Edvard Moser receberão a outra metade do Prêmio Nobel.
Juntas, as células de lugar e as de grade provavelmente formam o sistema de navegação interno do cérebro humano, inclusive, fornecendo-nos uma noção imediata de posicionamento, como quando estamos em casa, no ambiente de trabalho e em um espaço de lazer, por exemplo. No entanto, mais estudos são necessários para que nos asseguremos de que esses tipos de célula também são encontrados em humanos, apesar de termos indícios de sua presença.
Acredita-se que as células de grade e de lugar estejam associadas à perda da noção espacial que decorre do mal de Alzheimer, um dos primeiros sintomas enfrentados por pacientes deste transtorno neurodegenerativo, pesando a favor da hipótese o fato de o Alzheimer matar neurônios do hipocampo e do córtex entorrinal.
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