Cientistas reportam o que parece ser a evolução de uma nova espécie de sapo-flecha-venenoso no Peru. O desenvolvimento da nova espécie desse anfíbio, um especialista na arte de imitar outros sapos, aparentemente envolve sua própria habilidade de cópia.
O mímico em questão, Ranitomeya imitator, é capaz de copiar espécies diferentes de sapos, de maneira que indivíduos da mesma espécie possuem aparências completamente diferentes, dependendo do ambiente em que vivem e, é claro, dos modelos a serem copiados.
Publicado no periódico Nature Communications, um estudo realizado por cientistas dos Estados Unidos e da Dinamarca sugere que, na região geográfica em que populações distintas de R. imitator (que costumam viver separadas) se encontram, tem-se o início da formação de uma nova espécie (especiação).
Na visão dos pesquisadores, uma evidência dessa especiação estaria na preferência sexual das populações, cada qual acasalando com indivíduos pertencentes à sua própria variedade de imitação. Em experimentos, o grupo de investigadores deu duas opções de fêmeas a machos em fase de cortejo, uma da sua própria variedade e outra de variedade distinta, e anotou o tempo de duração do cortejo entre o macho e cada uma das fêmeas, mensurando, portanto, a preferência sexual.
As conclusões apontam para o fato de que as variedades optam por companheiras de mesma “identidade”, e Kyle Summers, biólogo coautor do estudo, suspeita que isso se deva a algum tipo de prejuízo à sobrevivência dos filhotes causado pelo cruzamento entre variedades de imitação — levando a um maior risco de predação, por exemplo —, mas lembra que, apesar da rapidez com que o processo de especiação parece ocorrer, “teremos que voltar daqui a alguns milhares de anos para ter certeza”.
A equipe ainda pondera que a capacidade de imitar guia a separação genética dos sapos venenosos, pois as duas variedades em contato podem utilizar a aparência para distinguir membros de sua própria variedade dos demais, evidência apoiada por estudos prévios da visão dos sapos-flecha-venenosos, de autoria dos mesmos pesquisadores, que assertam que estes sapos conseguem observar as diferenças no padrão de cores com “bastante clareza”, disse Summers à National Geographic.
O biólogo de Harvard James Mallet acredita ser “fascinante” a descoberta de que a habilidade de imitação do sapo R. imitator está ligada ao comportamento sexual do animal e concorda com a possibilidade de que haja um processo de especiação em andamento. Contudo, Mallet observa que, apesar de os padrões de cores reconhecidamente afetarem as decisões de acasalamento de alguns sapos-flecha, o estudo atual “não apresentou quaisquer dados demonstrando que a escolha de parceiro(a) foi baseada na cor”. O biólogo completa que as variedades podem utilizar outros sinais, como o canto.
Esse é apenas o segundo caso — conhecido pela biologia — sugerindo que a imitação pode dividir populações e gerar espécies. O outro exemplo se refere a um grupo de borboletas do gênero Heliconius, também encontrado na América do Sul.
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