Não é de hoje que a influência das redes sociais no comportamento humano tem sido objeto de estudos mundo a fora. A bomba mais recente que tem contribuído para o debate acadêmico acaba de ser lançada pelo Facebook: a rede social de Mark Zuckerberg decidiu não se limitar apenas à observação, mas também manipulou os seus utilizadores… E à revelia!
Publicado, discretamente, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) de 17 de Junho, só agora o artigo obteve destaque na imprensa norte-americana, sendo duramente criticado por internautas e acadêmicos, surpreendidos com a notícia de que o Facebook teria submetido alguns utilizadores a testes de manipulação psicológica sem “consentimento prévio”, conforme exige a lei nos EUA.
De acordo com o estudo, em Janeiro de 2012, durante uma semana, o Facebook teria dividido 689.003 utilizadores em dois grupos distintos, filtrando o tipo de conteúdo que cada grupo receberia no seu feed de notícias. Enquanto uns tiveram o news feed com menos conteúdo “positivo” do que o habitual, os demais ficaram com menos publicações “negativas”.
O objetivo era perceber se a exposição a conteúdos ligeiramente diferentes interfere ou não no comportamento dos utilizadores. Ainda que de forma pouco significativa, verificou-se foi um decréscimo de 0,1% no número de “palavras positivas”, no grupo em que as publicações com o mesmo teor no seu feed foram reduzidas, e uma diminuição de 0,07% no total de “palavras negativas” entre os indivíduos menos expostos a esse tipo de conteúdos.
Em resposta às acusações de falta de ética, o porta-voz do Facebook disse à Forbes: “refletimos cuidadosamente sobre as pesquisas que fazemos e temos um forte processo de análise interna. Não há recolha desnecessária de informação das pessoas nestas iniciativas de investigação e toda a informação é conservada em segurança”.
Internautas e acadêmicos, no entanto, defendem o que está em causa não é a somente o quesito “privacidade”, mas a manipulação de seres humanos sem ao serrem informados antecipadamente, como impõe a lei norte-americana. Em contrapartida, a empresa entende que todos os utilizadores dão consentimento no momento em que aceitam as condições de utilização do site.
Vale lembrar que o feed de notícias, onde os utilizadores recebem atualizações de amigos e páginas, é gerado individualmente a partir de um algoritmo. A verdade é que, sem os filtros impostos pelo algoritmo, a realidade dos feeds seria outra completamente diferente. Entretanto, sendo o Facebook é uma empresa privada, não necessita de aprovação de uma comissão de ética.
Via Jornal Público
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