“A sua escolha inicial [do peixe-espada] fora se esconder nas água escuras e profundas, para além de todos os laços, armadilhas e traições. A minha escolha fora procurá-lo onde jamais alguém ousara ir. Sim, onde jamais alguém ousara ir. E agora estavam ligados um ao outro e assim se encontravam desde o meio-dia. E não havia ninguém para ajudar nem a um nem a outro.”
Em meio a sua corrida matinal, deparou-se com uma daquelas imagens que, automaticamente, remetia a sua memória a leituras de outrora. Lembrou-se de “O Velho e o Mar”, o clássico de Hemingway. Aquele livro lido ainda nos primeiros dias da sua juventude. Aquele que conta a história de Santiago, um pescador idoso que se encontra a 84 dias sem conseguir voltar para casa com um único peixe sequer e que tem como distrações as notícias da Liga de Beisebol dos Estados Unidos e as conversas com o menino Manolin. Aquele livro que tantas vezes a fez imaginar a sua primeira vez aos pés do mar. Aquele livro que merecia ser lido vezes sem conta, sem que houvesse contra-indicações.
Fora um minuto, apenas. Sessenta segundos de pausa diante daquela imagem pronta para emoldurar. Ele, o Velho, falava com os seus botões, conversa esta que, de onde estava, a Menina jamais poderia ouvir. Conversava ele com o seu singelo barco, enquanto o apreciava o sacolejar do D’Ouro diante de si. Ele, o Mar, não estava longe dali. Aliás, dali mesmo de onde estava, facilmente ouvia-se o encontro voraz entre rio e mar. A Foz. O D’Ouro. O Velho. E o Mar.
Sorriu, como era de costume. Tratou de congelar aquele momento no gadget que leva sempre à mão e depois seguiu o seu caminho, com passos largos, firmes e apressados, na certeza de que destino de rio é desaguar no mar. Aumentou o volume. Definitivamente, era dia de ouvir Caymmi… “É doce morrer no mar. Nas ondas verdes do mar…” A Foz. O D’Ouro. A Menina, o Velho e o Mar.
CAssis, a Menina Digital
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