Dois grupos de cientistas afirmam ter produzido células-tronco embrionárias humanas a partir de embriões clonados de células adultas.
Em artigos publicados, um no periódico Cell Stem Cell e outro no portal online da Nature, os pesquisadores descreveram as descobertas com células-tronco clonadas que, no futuro, poderão ser usadas no tratamento de doenças degenerativas e na recuperação de tecidos humanos.
As primeiras células-tronco derivadas de embriões humanos clonados foram anunciadas pelo especialista em biologia de células-tronco Dr. Shoukhrat Mitalipov, da Oregon Health & Science University, em maio de 2013. O processo empregado por Mitalipov gerou células-tronco com genomas extraídos de células fetais e de um bebê de oito meses de idade, o que, por si só, não garantiu que o mesmo seria possível com células de adultos.
Agora, pesquisadores da Universidade CHA, em Seul (Coreia do Sul), e do New York Stem Cell Foundation Research Institute relataram o uso da transferência nuclear de células somáticas (TNCS) para a obtenção dos embriões clonados. A técnica consiste na remoção dos núcleos de células somáticas e posterior inserção destes núcleos em um óvulo humano não fertilizado — cujo próprio núcleo havia sido retirado. (Células somáticas são quaisquer células não envolvidas diretamente na reprodução, ou seja, que não se multiplicam por meiose na formação dos gametas; células-tronco também não se incluem no grupo de células somáticas.) Isso faz com que a célula recém-formada seja revertida ao estágio embrionário, daí a importância da TNCS para pesquisas com células-tronco.
“Apesar do sucesso na clonagem em numerosas espécies animais, a derivação de linhagens de hESC [sigla em inglês para células-tronco embrionárias humanas] a partir de embriões humanos clonados se provou difícil”, diz o artigo publicado no Cell Stem Cell, de autoria das equipes lideradas por Young Gie Chung e Dong Ryul Lee, da Universidade CHA, que comunicaram a obtenção de células-tronco embrionárias utilizando núcleos de dois homens saudáveis, com idades de 35 e 75 anos.
Já no artigo da Nature, o especialista em medicina regenerativa Dieter Egli, do instituto nova-iorquino de pesquisas com células-tronco, descreve a geração de células-tronco embrionárias através de um embrião clonado que continha o DNA de uma mulher de 32 anos, portadora da diabetes tipo 1 — doença causada pela produção insuficiente de insulina pelo organismo. De acordo com os pesquisadores, as células geradas em laboratórios conseguiram se diferenciar e formar células produtoras de insulina.
As células-tronco embrionárias (não clonadas) já foram testadas em terapias para a recuperação de lesões da coluna espinhal e doenças dos olhos. Ao contrário dessas células, geralmente retiradas de embriões não utilizados em tratamentos de fertilização, as células-tronco derivadas de células adultas clonadas são compatíveis com os doadores de material genético, o que reduz o risco de rejeição na realização de um transplante, por exemplo. O pesquisador Robert Lanza, coautor do estudo que figura no Cell Stem Cell e diretor científico da companhia Advanced Cell Technology, em Massachussetts, acredita que, mesmo que as células-tronco embrionárias se mostrem adequadas para tratamentos médicos, talvez não seja necessário criar uma linhagem dessas células para cada paciente. Lanza acredita que podem ser criados bancos de linhagens de células apropriados para grupos de pacientes que necessitem de transplantes de tecidos.
No entanto, barreiras éticas — visto que os embriões clonados são desenvolvidos com o propósito único de extração de células-tronco — e custo elevado podem travar o desenvolvimento da técnica baseada na clonagem, razão pela qual a tecnologia de indução de pluripotência (na qual uma célula adulta recebe genes que a fazem regredir ao estágio embrionário) tem recebido mais investimentos recentemente, segundo Egli.
Suspeita-se que alguns cientistas poderiam utilizar a tecnologia de clonagem para a geração de bebês humanos, o que é considerado antiético e ilegal em muitos países. Mitalipov descarta a hipótese, concluindo que pesquisas semelhantes com macacos não foram capazes de criar embriões clonados que sobrevivessem à gestação.
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