Utilizando o Telescópio Espacial Kepler, da NASA, astrônomos descobriram o primeiro planeta do tamanho da Terra dentro da zona habitável ao redor de uma estrela — apelidada de “Zona Cachinhos Dourados” —, o que significa dizer que ele está a uma distância adequada da estrela que orbita para conter água em estrado líquido.
Em dissertação publicada no periódico Science, os pesquisadores observam que encontraram o corpo celeste Kepler-186f orbitando a estrela Kepler-186, na constelação de Cygnus (Cisne), a cerca de 500 anos-luz da Terra. O novo exoplaneta identificado é a última de uma série de descobertas possibilitadas pelo telescópio Kepler, que emprega o método de trânsito na detecção de planetas localizados fora do Sistema Solar, segundo o qual um objeto que passe defronte (a partir da visão do telescópio, obviamente) a uma estrela ofusca brevemente a luz que esta emana.
A coautora do estudo Elisa Quintana, astrônoma do Instituto SETI, na Califórnia, e sua equipe mediram o efeito da passagem do Kepler-186f sobre a luminosidade da estrela e estimaram que o objeto tenha 1,1 vezes o tamanho da Terra. Quintana avalia estarmos mais próximos, inclusive, de encontrar um sistema que se comporte como um verdadeiro “análogo” à relação Sol-Terra.
Cachinhos Dourados
O exoplaneta Kepler-186f é o quinto e mais longínquo planeta descoberto ao redor da estrela Kepler-186, mas o único que a orbita em uma distância que, teoricamente, permite a existência de água líquida. Os pesquisadores costumam chamar essa distância ótima, a Zona Habitável Circumestelar, de Zona Cachinhos Dourados, em referência à história infantil “Cachinhos Dourados e os Três Ursos”, na qual uma menina (ou uma senhora, na versão original), passeando por um bosque, encontra a casa onde mora uma família de ursos. Ali, vê três pratos de mingau servidos à mesa: experimentando os dois primeiros, considera um muito quente e, o outro, muito frio, passando então ao terceiro prato, que verificou ter a temperatura ideal.
Voltando ao planeta, este recebe apenas cerca de um terço do calor de sua estrela do que a Terra recebe do Sol e, portanto, precisaria ter uma densa atmosfera composta por dióxido de carbono para ser suficientemente quente para abrigar a água em estado líquido. Dita atmosfera poderia ter se formado através de atividade vulcânica, por exemplo, explica Lisa Kaltenegger, pesquisadora planetária do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha.
Além disso, o tamanho do planeta sugere que ele seja rochoso, proposição da qual os cientistas não estão certos: “[a]pesar de esses planetas poderem muito bem ser rochosos, nós realmente não sabemos. Não temos nada desse tamanho no nosso Sistema Solar”, diz Thomas Barclay, do Ames Research Center, instituição de pesquisas da NASA. Barclay acrescenta que nossos dois vizinhos planetários — Marte e Vênus — têm extensões bastante parecidas com as da Terra e são rochosos.
Anãs em voga
A estrela Kepler-186 é uma anã vermelha de tipo espectral M. Com temperatura e massa menores do que as do Sol, as anãs vermelhas constituem a maior parte das estrelas do universo, sendo esta uma das razões pelas quais a busca por planetas as põe em voga.
Outro motivo para “mirar” as anãs vermelhas é o fato de os planetas normalmente se formarem em órbitas próximas às estrelas e, por conseguinte, completarem giros relativamente rápidos em torno delas, o que facilita a observação de exoplanetas pelo método de trânsito: dada sua massa diminuta, uma anã M acumula discos de poeira e gás menores ao redor de si quando da formação dos planetas, explicou à Nature o astrônomo Nader Haghighipour, da Universidade do Havaí. A massa menor tende a formar planetas menores, e as interações gravitacionais entre os exoplanetas pode fazer com que alguns deles fiquem na zona habitável, explica o pesquisador.
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