E diante da imensidão do Atlântico, enquanto contemplava mais um ensolarado dia primaveril, a Menina relembrava com cuidado a conversa de há pouco ao telefone. Distantes um do outro há demasiado tempo, a saudade amainava um tanto sempre o ouvia. A distância entre os dois era transatlântica, ainda assim nunca se sentira tão próxima de alguém.
O telefone tocara antes mesmo de acordar. Eis o tipo de rotina que jamais a incomodava: ter aquela voz grave ao pé do ouvido logo cedo era sempre um deleite. Mesmo que há milhas e milhas de distância, o desejo de pertença era maior que eles. Eram um do outro e quanto a isto não havia volta a dar.
ELE [outrora amado amante], em tom provocativo, pergunta:
“Como se diz, aí em Portugal, ainda lembro do teu cheiro, das tuas unhas encravadas nas minhas costas, do timbre da tua voz sussurrando ao pé do meu ouvido e do gosto de teu beijo?”, e com ares de timidez, sorri.
ELA [outrora amante amada], sem titubear, responde:
“Diria eu que… a tua boca ficou na minha, enquanto meus olhos viram a cor dos teus. E o meu corpo? Ah! Este pertenceu claramente às tuas mãos. Eu parti, é certo, mas foi nas tuas mãos que permaneceu o corpo que um dia encaixou no teu. Tatuei-te em mim para que te pudesse levar aonde quer que eu fosse. Já não te lembras?!”
Era perante o mar que relembrava cada palavra dita, cada jura de amor trocada, cada provocação propositadamente proferida. Sentia saudades sempre que relembrava o quão perfeito eram quando juntos. E agora, com um oceano a separá-los, muito pouco lhes restava: cartas de amor e conversas transatlâncias. Desejou estar nos abraços dele. E se pudesse, num piscar de olhos, simplesmente ia, porque lá era o seu devido lugar. Era nos abraços dele que queria morar, nesta e noutras tantas vidas.
CAssis, a Menina Digital
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