Guardara o seu melhor abraço para o regresso. E já lá iam alguns bons dias desde a última vez que o abraçara – Ele, o senhor dos seus sorrisos. Contrariamente às expectativas, a lembrança do último afago – o da despedida – mantinha-se cada vez mais vívida na sua memória. Partira com a certeza de que a saudade que levava na bagagem, cedo ou tarde, a traria de volta para o ninho de outrora.
Ainda era inverno na terra que acolhera a Menina vinda dos Trópicos e mais um dia gélido cor de chumbo fazia-se presente na cidade que aprendera a amar. Não sabia ao certo se era da urgência de chegar a casa, ou se da saudade [hóspede indesejada] que insistia em fazer morada no seu peito, mas o percurso desde a capital parecia mais longo que o costume. Os ponteiros no seu relógio antigo – preciosidade herdada da sua avó materna – pareciam não se mover. Embora não tivesse encontrado o tão almejado verão, esta passarinha regressara mais cedo, convicta de que só um abraço… hmmm… e estaria plena outra vez!
Ainda de dentro do comboio, avistou o D’Ouro. Maravilhada com o que via, certificou-se de que a euforia que lhe transbordava o peito. Estava em casa outra vez e a sensação não poderia ser melhor. O regresso fora inevitável por que partiu quando desejava tanto ficar. Trouxe consigo, conforme prometido, o melhor de todos os abraços. No desembarque, lá estava ele, o menino-colibri que lhe inspirava voos furtivos. E enquanto se aninhava naquele abraço, percebeu o óbvio: era ali que a Menina queria morar, nas quatro estações do ano!
CAssis, a Menina Digital
LEIA TAMBÉM:
Comentários