Aprendera desde muito cedo que “uma andorinha só não fazia verão”. Mas no fundo, cultivava dentro de si a crença de que isto valia para toda a sorte de passarinho. Para ela, menina-colibri, passarinho que se preze sabe bem a hora de alçar voo, de migrar para novas paragens onde o bom tempo fizesse morada. Passarinhar seria o seu verbo para os próximos dias, afinal, as suas asas já haviam esperado em demasia.
Ainda era inverno no Velho Continente. O mais longo e rigoroso desde há muito tempo. Mas naquela manhã a chuva teria dado uma trégua à gente daquele lugar. Ainda que passageiro, o sol surgira naquela manhã em todo o seu esplendor, ainda que chovesse torrencialmente nos olhos da Menina. Descompassadamente, chorava. Era preciso embarcar no próximo trem, mesmo não estando preparada para se despedir.
Para ela, partir nunca fora tarefa fácil. Mas desta feita, havia um peso extra por carregar: a saudade dos dias felizes e do amor que encontrara, finalmente, nos braços deles. Tentava, com algum esforço, convencer-se de que, quando há amor, cedo ou mais tarde as partidas transformam-se em chegadas e que, aqui a nada, nesta mesma estação, o beijo já não seria de despedida, nem as lágrimas de solidão. Observava com cuidado a vida passar ligeira, de um lado para o outro, no átrio daquela estação:
Beijos com sabor de “quero mais”.
Abraços infindáveis.
Sorrisos cúmplices e galanteios ditos à última hora.
Mãos atadas uma na outra.
Despedidas.
Choro.
[Re]Encontros.
Mais choro.
Intermináveis abraços.
Beijos com sabor de “não partas nunca mais!”.
– “É hora de embarcar, meu bem, ou ainda perdes o comboio”, disse ele, beijando-lhe mais uma vez.
Apressou-se, sentindo que uma torrente de lágrimas era iminente, deixando com o amado o último abraço por dar e a promessa de que não tardaria muito até que ela voltasse para reaver todo o afeto que lhe era devido. Foi-se, levando consigo uma mala repleta de sonhos e o desejo do regresso urgente bordado na alma.
CAssis, a Menina Digital
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