Era o fim. O tom de voz dele do outro lado do telefone apontava nesta direção. Ela, por sua vez, fingia indiferença, por que, afinal, protegida por aquele aparelho, podia esconder as lágrimas enquanto dizia secos “OKs”. Um filme passava diante dos olhos da Menina ao ouvir a aridez da voz que outrora lhe recitara poemas inteiros ao pé do ouvido: contas feitas, ele decidira pelo fim.
Ouvir-lhe dizer que poderia, diante dela, olhos nos olhos, repetir tudo aquilo [que não era menino de fugir às responsabilidades] era pior que a suposta indiferença. Isso porque indiferença é um bocado “não saber”. Não saber se, no fundo, ele também sentia saudades. Não saber se estava verdadeiramente convicto das suas decisões. Não saber se era mais feliz por seguir outro rumo que não ao lado dela…
Notou que, de onde estava, via a vida passar devagar diante diante dos seus olhos. Teve medo! Não por saber que teria que partir. Teve medo justamente por não poder ficar.
[Quis ficar. Quis não dizer adeus. Desejou que o sonho ruim acabasse logo.]
Chovia torrencialmente lá fora. Chovia tempestades inteiras nos olhos dela: DESASSOSSEGO! Despedidas nunca fora mesmo o seu forte. A Menina era mais dada aos beijos e abraços dos reencontros que tecia a sua vida. Sentiu saudades. Sentiu-se só. Chorou tempestades torrenciais naquele domingo de solidão. Sorveu mais uns goles de “maduro tinto” ao som de canções de amor. Relembrou as coisas boas dos dois [e era tantas e tão gigantes!] e sorriu entre uma recordação e outra. Mas ao perceber que até o beijo derradeiro, o de adeus, lhe fora usurpado… Entregou-se inevitavelmente a tempestade que assolava o seu peito.
Mas não tardou muito até que entendesse que não havia espaços para arrependimentos no seu viver. E com o peito repleto de lisonja e orgulho pela épica história de amor que cercava eles dois, rezou aos deuses para que deixassem de brincar com o destino, que já andavam cansados demais. Ele dizia nem ter certeza do que queria queria. Ela, por ter certeza dos seus desejos, quis que o mundo parasse e que os deixasse viver.
A bem da verdade, não havia dúvida que dormitasse naquele coração tupiniquim. Confiou no tempo, nos deuses brincalhões, nas incertezas de estar viva. Quis ser dele, do menino de sorriso largo. Mas quis muito antes disso vê-lo feliz. E, desta feita, respeitou a exatidão das suas escolhas. Sorveu mais uns goles de vinho. Intempestivos seriam os próximos tempos. E se chorava, não era por ter que partir, mas sim por não poder ficar.
CAssis, a Menina Digital
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