Era chegado o temido dia de despedidas e, da janela do seu quarto, a Menina apreciava aquele que seria o último findar de dia visto desde aquela paragem. E tantas foram as vezes que dali viu o cair da noite no céu da cidade que aprendera a amar. De repente, um silêncio ensurdecedor invadiu aquele recanto da casa que, por longos anos, foi cenário de aventuras e desventuras de menina vinda dos trópicos. Sentiu uma saudade prévia invadir-lhe o peito. Lágrimas inevitáveis lavaram-lhe o sorriso. Nunca duvidara da força avassaladora com que costuma chegar a saudade, que vem sempre sem avisar, arrastando tudo o que encontra pela frente.
[Silenciou!]
Veio à memória de que incontáveis foram as vezes que daquela janela viu o sol esgueirar-se aos bocadinhos, colorindo a emblemática vista ali emoldurada. Era também daquela janela que, ao fim de mais uma jornada, costumava ver o sol poente dourar a sua adorada “Invicta Cidade do Porto”. E ali, absorta diante de mais um indefectível entardecer, tentava habituar-se, pouco a pouco, à ideia de que logo aquela vista não seria mais sua, que haveria de pertencer a outro alguém, que não já tardava nada até ter uma outra janela só sua, com uma outra vista. Nem mais, nem menos bela que a vista de outrora. Apenas uma nova vista, uma perspectiva completamente fresca, como se fosse uma tela em branco por pintar.
[Sorriu!]
CAssis, a Menina Digital
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