Habituara-se desde muito cedo a questionar a vida e listar os porquês que obrigavam-na a sair da cama e enfrentar as agruras cotidianas. Dona de uma longa lista de muitos bons motivos por celebrar, a menina tinha por costume vestir-se de alegria e carnavalizar os dias dos que, por sortilégio do destino, desfrutavam do prazer de orbitar à sua volta. Era outono no Velho Continente e mais uma daquelas gélidas manhãs surgira no horizonte como numa espécie de afronta àquela alma vinda dos trópicos.
Ainda de debaixo das cobertas, apercebera-se de que não estava só, que as suas pernas ainda emaranhadas nas dele eram a prova cabal de que estava no lugar certo: NINHO! Sorriu ao lembrar-se de que seria preciso acrescentar à sua lista o mais novo motivo para sorrir e brindar à vida. Desejou prolongar aquele momento e permanecer naquele que, definitivamente, era o melhor dos mundos. Quis beijos, abraços apertados, sacanagens cúmplices, silêncios confortáveis. Aceitara de bom grado o que lhe ofertara os deuses, selando com um beijo um pacto com a felicidade dos dias de amor.
– “Sossega-te cá no meu peito que ainda é cedo para voar, ó passarinha!”, disse-lhe o responsável pelos dias de colibri.
Sem hesitar, e enquanto recitava uns versos de Leminski que mais parecia uma ode aos dois, ela acatou as ordens do seu menino alado, mantendo-se ali onde eram plenos e felizes. E da segurança do ninho, o desejo era uníssono: QUE O MUNDO LEMINSKI-SE!
CAssis, a Menina Digital
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