O sol havia dado ar da sua graça desde muito cedo naquele dia. A menina, por sua vez, já estava de pé antes mesmo dos primeiros raios de sol que enfeitava aquela manhã, graças à dificuldade em respirar advinda da gripe malvada que havia se apoderado do seu ‘corpitcho’ magrelo nos últimos dias.
Contudo, e mesmo um tanto mal disposta, a menina de alma tupiniquim já estava acesa antes mesmo de o galo cantar. Bem… A verdade é que há muito que já não havia galo a cantar no seu quintal, despertador matinal da sua infância. Mas a menina gostava de assim imaginar, dada a saudade que sentia ainda mais forte nestes dias em que o corpo enfraquecido fazia sofrer também a alma [carências de menina]. Quis brincar ao sol, como nas mais doces memórias de criança serelepe que fora.
– “Mãããeee!!! Deixa eu ir brincar lá fora?!”, suplicou a menina.
– “Claro que não, Dona Ana Cláudia, que a senhorita tá doente! Vá’simbora brincar c’os bonecos que o seu amigo lhe deu, menina teimosa!”, ordenou a sua velha mãe, num sotaque ritmado e melódico [típico da gente daquela terra], carregado de cuidado e afeto.
A menina sequer ousou desobedecer aquelas ordens, pois como costumava dizer Dona Cici [a sua adorada mãe], “respeito é bom e conserva os dentes no lugar”. E, então, foi-se embora a menina, brincar com bonecos coloridos e imaginar historias, como era de costume.
CAssis, a Menina Digital
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