Chovera torrencialmente na noite que precedeu aquela manhã fria de novembro. Mas mesmo contra todas as circunstâncias, a menina alegremente saltitava as poças d’água deixadas pela chuva. Sentia-se feliz como na infância, quando a sua maior preocupação em dias assim era ter de escolher se usava galochas ou se metia os pés nus n’água fria. Acordara feliz, é certo. Mesmo com aquele mau tempo, a menina de alma tupiniquim estava feliz.
E de repente, entre o saltitar de uma poça e outra, foi tomada de assalto pela lembrança de um outro dia chuvoso que também a deixara contente. Lembrou-se de que estava frio e que chovia como se o planeta tivesse sido acometido por um daqueles dilúvios bíblicos. Mas lembrou-se também de que não estava só, que tinha o [outrora] amado agarrado à sua mão. A doce memória de que, de mãos dadas, correram os dois chuva à fora, rindo como uns bobos por já não fazerem coisas assim desde há muito tempo, a fez sorrir um dos seus sorrisos largos.
Foi, então, quando parou o que estava fazendo para se deleitar com a recordação de como aquela noite terminara, daquele instante de ternura em que o [outrora] dono dos seus sorrisos enxugou-lhe os cabelos “para que não acabasse doente” e que, por fim, a abraçou como se quisesse aquecer um corpo no outro.
– “Aquilo era cuidado. Aquilo era amor!”, confessou a si mesma.
Sorriu, enternecida com aquelas lembranças boas. A menina era mesmo assim: sabia que lembrar com ternura dos amores de outrora, desfeitos pelos caprichos do destino, era sinal de que estava pronta para amar outra vez. Olhou em frente e viu NOVAS poças d’água por saltitar. Assegurou-se de que vestia um dos seus melhores sorrisos e seguiu a sua jornada, pois acreditava que, mais cedo ou mais tarde, entre uma poça e outra, o amor saltitaria diante de si… OUTRA VEZ!
CAssis, a Menina Digital
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