E lá estava ela, encostada à janela, a espreitar a vida que passava logo ao dobrar a esquina. Deolinda era o seu nome. Ao menos era assim que a menina gostava de imaginar que era este o nome da dona daqueles fartos cabelos brancos. Do outro lado da rua, tentava capturar aquele momento, guardá-lo a sete chaves, cá no pensamento. Depois pensou que esta seria uma atitude um bocado egoísta. Quis partilhar com o mundo. Fotografou-a!
Quase como se percebesse o que se passava do lado de lá da rua, conferindo algum grau de cumplicidade naquele momento temperado com a magia típica dos afetos instantâneos, a simpática velhinha sorriu com os poucos dentes que ainda possuía. E ainda assim… Ah! Foi dos mais lindos sorrisos que alguma vez a menina já tinha visto.
Meio hipnotizada com aquele instante, acabou por perder a chance de perpetuar aquele momento tão sublime [o largo e despretensioso sorriso] num dos retratos que tanto adora fazer.
– “O tal sorriso, senhoras e senhores, levarei comigo muito bem guardado, entre as prosas e as poesias que gosto de desenhar cá nos pensamentos. O sorriso e o aceno que logo em seguida ofertou-me a gentil senhora e que, de bom grado, levei comigo na algibeira da minha alma.”.
E, então, foi-se embora a menina. Seguiu com a sua vida enquanto via ao longe a Dona Deolinda sorrir e acenar, cada vez mais miudinha. Sorria novamente sempre que relembrava aquela cena. SORRIA COM TODOS OS DENTES O SEU MELHOR SORRISO!
CAssis, a Menina Digital
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