Hugo Barra, o vice presidente para a gestão de produtos relacionados com o Android e um dos grandes talentos da Google está de malas feitas para a Xiaomi. É o segundo elemento da equipa do Android que a Google perde num espaço de cinco meses. A Xiaomi é uma empresa que não diz nada à maioria das pessoas mas é provavelmente das startups chinesas mais inovadoras da actualidade.
Hugo Barra é um talentoso engenheiro brasileiro que em 2008 entrou para a Google e mais recentemente era o rosto de todas as press-releases do Android nomeadamente a do anúncio da mais recente iteração do Nexus 7. A saída de Hugo Barra da Google deve-se a mais do que uma nova oportunidade justificada por atractivas contrapartidas financeiras. Aliás é o segundo executivo de importância a deixar a equipa do Android num espaço de 5 meses depois de Andy Rubin. Este novo capitulo parece indicar que a Google está a promover transformações internas na estrutura que opera o seu sistema operativo móvel. Não só isso, mas no limite alguns dos principais responsáveis que tornaram o Android no sistema operativo que hoje é, não parecem estar alinhados com as transformações que estão a ser levadas a cabo.
Mas existe ainda um pormenor bastante interessante no meio disto tudo. É a primeira vez que um executivo do Android troca a Google por uma empresa chinesa, embora algumas circunstâncias por trás desta decisão não sejam ainda completamente claras. Existem rumores que referem que um dos motivos que levou a que Hugo Barra, precipitasse a sua saída da Google se deve ao mau ambiente resultante de uma relação amorosa. Uma funcionária da Google com quem alegadamente ele teve um relacionamento, parece ter começado a sair com o co-fundador da Google Sergey Brin o que poderá não ter agradado a Hugo Barra. Mas, apesar de poder ter sido uma das razões, não acreditamos que seja a única nem muito menos a principal.
Aliás esta especulação acaba por ofuscar uma notícia da maior relevância. O facto da Xiaomi uma das mais inovadoras startup chinesas ter atraído um executivo chave da equipa do Android. A Xiaomi é a detentora de uma das mais populares ROM’s para Android. A Rom MIUI é uma referência em simplicidade e personalização e conta já com milhões de utilizadores em todo o mundo. A MIUI baseia-se em conceitos de simplicidade patente no software da Apple e a capacidade de personalização e flexibilidade do Android. O mais importante é que como a MIUI utiliza o Android como base, a entrada de Hugo Barra poderá trazer um “know how” precioso para a empresa.
De muitas maneiras, a Xiaomi (ou a Apple da China como normalmente é designada) incorpora o potencial de crescimento e factores exclusivos no espaço móvel Chinês, que não nos esqueçamos, é o maior mercado de smartphones do mundo. A empresa tem aproveitado desde há dois anos para cá o sucesso comunitário da MIUI, para vender Smartphones com esta ROM com boas especificações técnicas mas a preços muito agressivos. O modelo de negócios da Xioami parece também ser uma mistura entre o modelo de negócio da Apple e Google. Por um lado é um fabricante de Smartphones (tal como a Apple), por outro tenta realizar capital através da oferta de serviços cloud (tal como a Google)
Existe ainda um pormenor muito interessante, recentemente a Xiaomi ultrapassou a Apple ao nível de quota de mercado na China. Este sucesso resultante da procura de dispositivos da Xiaomi é indicador de que a empresa terá encontrado o ponto ideal entre dispositivos mid-range (mas bem construídos) e dispositivos extremamente funcionais. A realidade é que até agora os resultados são impressionantes: a Xiaomi decidiu vender os seus dispositivos mais recentes em lotes limitados, e o mais recente lote de 100 mil smartphones “Hongmi” geraram tanta expectativa que foram vendidos em 90 segundos após serem postos à venda. Além disso, cerca de 7.5 milhões de dispositivos foram reservados por fãs que ficaram de fora deste lote.
É com este estrondoso sucesso na China que a Xiaomi quer dar o passo seguinte numa internacionalização. E para concretizar este objectivo precisa da experiência de Hugo Barra. O melhor indicador de que a Xiaomi tem a ambição da internacionalização, está patente no cargo de vice-presidente da Xiaomi Global Business (mercado global da Xiaomi) que Barra vai ocupar. É a primeira vez que alguém ocupa este tipo de cargo na Xiaomi o que de facto indicia bem as ambições da empresa.
Barra inicia oficialmente as suas novas funções na Xiaomi em Outubro onde entre outras funções será responsável em estabelecer uma relação estratégica com a Google, mas o presidente da Xiaomi e co-fundador Bin Lin, sugeriu que Barra poderá já estar presente no lançamento de um novo produto que a empresa vai anunciar a 5 de Setembro. Embora a Google não tenha qualquer conflito com a Xiaomi ou o MIUI (pelo menos que se saiba publicamente), será interessante ver o que Xiaomi e Barra fazem, e como seus ex-colegas respondem a ele.
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