A União Europeia retomou hoje as discussões sobre um dos temas mais polémicos dos últimos anos: a análise automática de mensagens privadas nas aplicações de mensagens como o WhatsApp e Signal.
O projeto, conhecido informalmente como “Chat Control”, está de volta à agenda do Conselho da UE, depois de ter sido temporariamente suspenso em outubro devido à abstenção dos Países Baixos na votação.
Como funciona a análise de mensagens
A proposta atual representa uma versão mais suave do projeto inicial de maio de 2022. Em vez de analisar todo o conteúdo das mensagens, incluindo texto e áudio, a nova versão concentra-se apenas na análise de fotografias, vídeos e ligações partilhadas.
No entanto, existe uma condição controversa: os utilizadores terão de dar autorização para que o conteúdo seja analisado antes de ser encriptado. Esta exigência tem gerado forte oposição por parte de especialistas em privacidade, que a consideram uma forma disfarçada de quebrar a encriptação.
Meredith Whittaker, presidente da Signal Foundation, classificou esta chamada “moderação de uploads” como um “jogo retórico” que compromete a verdadeira privacidade das comunicações.
O papel da inteligência artificial na vigilância
Em setembro, uma versão do documento divulgada pela Politico revelou que as empresas de comunicação terão liberdade para decidir se utilizam ou não inteligência artificial para identificar conteúdos suspeitos.
No entanto, estas plataformas serão legalmente obrigadas a analisar todas as conversas dos utilizadores e a denunciar quando encontrarem conteúdo ilegal. Esta obrigação levanta questões sérias sobre o equilíbrio entre privacidade e segurança.
O apoio dos estados-membros
Segundo os dados mais recentes do Partido Pirata Europeu, a maioria dos países já manifestou apoio à nova proposta. A França, que anteriormente se opunha à medida, mudou a sua posição e juntou-se ao grupo favorável.
Atualmente, apenas nove países mantêm-se contra a proposta: Áustria, Bélgica, República Checa, Estónia, Alemanha, Luxemburgo, Países Baixos, Polónia e Eslovénia. Por outro lado, Itália, Portugal e Finlândia ainda não decidiram qual será a sua posição.
Impacto na privacidade digital
A implementação desta medida poderá ter consequências significativas para a privacidade das comunicações digitais. Especialistas em segurança e provedores de VPN têm alertado constantemente para os riscos associados a este tipo de vigilância.
O Reino Unido, por exemplo, já reconheceu as limitações técnicas desta abordagem ao suspender requisitos semelhantes na sua Lei de Segurança Online até que seja “tecnicamente viável” implementá-los.
A principal preocupação centra-se na impossibilidade de realizar esta análise sem comprometer a encriptação ponta-a-ponta, um mecanismo fundamental para garantir a privacidade das comunicações digitais.
A decisão final sobre esta proposta poderá estabelecer um precedente importante para o futuro da privacidade digital na Europa, com potenciais ramificações globais para a forma como as comunicações privadas são tratadas pelas autoridades.
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