A DJI, líder mundial no fabrico de drones, iniciou um processo judicial contra o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) numa tentativa de remover a sua designação como “Empresa Militar Chinesa”. Esta ação legal, interposta na passada sexta-feira, marca um ponto de viragem na longa batalha da empresa contra as alegações de ligações ao governo chinês.
Impacto negativo nas operações da DJI
A inclusão da DJI na lista de empresas militares chinesas em 2022 teve consequências significativas para a empresa. De acordo com a queixa apresentada, a DJI alega ter sofrido perdas substanciais em negócios, além de enfrentar uma estigmatização generalizada como uma potencial ameaça à segurança nacional dos EUA.
As repercussões desta classificação vão além do âmbito corporativo. A empresa afirma que os seus colaboradores “sofrem agora uma estigmatização frequente e generalizada” e são “repetidamente assediados e insultados em locais públicos”. Esta situação criou um ambiente de trabalho hostil e prejudicou a reputação da marca a nível global.
Além disso, a DJI viu-se impedida de estabelecer contratos com diversas agências governamentais federais dos EUA, limitando significativamente a sua capacidade de operar num dos maiores mercados mundiais de tecnologia.
Falta de transparência no processo de classificação
Um dos principais argumentos da DJI na sua ação judicial é a alegada falta de transparência por parte do Departamento de Defesa. A empresa afirma que o DoD se recusou a fornecer qualquer explicação para a sua designação como “Empresa Militar Chinesa” até que a DJI ameaçou avançar com um processo judicial em setembro deste ano.
Quando finalmente apresentou a sua justificação, a DJI alega que o documento estava repleto de erros e imprecisões. Esta situação levanta questões sobre o rigor e a justiça do processo de classificação utilizado pelo Departamento de Defesa dos EUA.
Historial de restrições e escrutínio
Esta não é a primeira vez que a DJI enfrenta restrições por parte de entidades governamentais dos Estados Unidos. Desde 2017, várias agências e departamentos têm implementado medidas para limitar ou proibir o uso de drones da DJI, citando preocupações de segurança nacional.
Em 2019, o Departamento do Interior dos EUA decidiu imobilizar a sua frota de drones da DJI, alegando possíveis riscos de espionagem. No ano seguinte, o Departamento do Comércio incluiu a DJI na sua Lista de Entidades, proibindo empresas norte-americanas de exportar tecnologia para a DJI.
Em 2021, o Departamento do Tesouro adicionou a DJI à sua lista de Empresas do Complexo Militar-Industrial Chinês Não-SDN, acusando a empresa de fornecer drones ao governo chinês para vigilância de minorias étnicas na região de Xinjiang.
Defesa da DJI e auditorias independentes
Face a estas acusações, a DJI tem consistentemente negado qualquer ligação ao governo chinês ou envolvimento em práticas de violação dos direitos humanos. A empresa argumenta que é simplesmente uma fabricante de drones e que não controla o uso final dos seus produtos.
Para reforçar a sua posição, a DJI aponta para auditorias independentes realizadas por empresas de consultoria e agências governamentais dos EUA, incluindo o próprio Departamento de Defesa, que não encontraram ameaças à segurança nos seus produtos.
Estrutura acionista da DJI
Na sua defesa legal, a DJI revelou detalhes sobre a sua estrutura acionista. A empresa afirma que apenas quatro indivíduos – o fundador Frank Wang e os primeiros colaboradores Henry Lu, Swift Xie e Li Zexiang – controlam 99% da DJI e possuem 87% das suas ações.
Embora a DJI admita que dois fundos de investimento estatais chineses fizeram investimentos minoritários na empresa, estes têm uma participação e influência limitadas. O Fundo de Investimento da Zona de Comércio Livre de Xangai detém “menos de 1% das ações da DJI e menos de 0,1% dos direitos de voto”, enquanto o Fundo Chengtong terminou o seu investimento em junho de 2023.
Implicações futuras para a indústria de drones
Este processo judicial ocorre num momento crítico para a indústria de drones. O Congresso dos EUA está atualmente a considerar uma proibição total da importação de novos drones da DJI e de outros equipamentos, alegando riscos para a segurança nacional.
Embora a Câmara dos Representantes tenha aprovado esta medida como parte da Lei de Autorização de Defesa Nacional, a versão do Senado ainda não inclui esta proibição. No entanto, existe a possibilidade de que ela seja adicionada posteriormente.
É importante notar que, mesmo que uma proibição seja aprovada, os proprietários atuais de drones DJI poderão continuar a utilizar os seus dispositivos nos Estados Unidos.
O resultado deste processo judicial poderá ter implicações significativas não apenas para a DJI, mas para toda a indústria de drones e para as relações comerciais entre os Estados Unidos e a China no setor tecnológico.
À medida que o caso se desenrola, a indústria e os observadores internacionais estarão atentos para ver como o equilíbrio entre as preocupações de segurança nacional e o livre comércio será gerido neste setor em rápida evolução.
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