Samsung nega planos para separar o seu negócio de fundição de chips, apesar dos prejuízos significativos. O presidente da empresa reafirma o compromisso com o crescimento desta divisão estratégica.
A Samsung tem enfrentado desafios significativos no seu negócio de semicondutores. A empresa sul-coreana, conhecida principalmente pelos seus smartphones e televisores, também opera uma divisão de fundição que produz chips para outras empresas.
Nos últimos anos, esta unidade tem registado perdas consideráveis, levantando questões sobre a sua viabilidade a longo prazo. Alguns analistas do setor especularam que a Samsung poderia considerar separar este negócio, potencialmente através de uma oferta pública inicial (IPO) nos Estados Unidos.
No entanto, numa surpreendente reviravolta, o presidente da Samsung, Jay Y. Lee, veio a público para desmentir categoricamente estes rumores. Em declarações à agência de notícias Reuters, Lee afirmou que a empresa não tem qualquer interesse em separar o negócio de fundição ou a divisão de design de chips lógicos.
O peso da concorrência no setor de semicondutores
A decisão da Samsung de manter a sua divisão de fundição integrada surge num momento de intensa competição no setor de semicondutores. A empresa enfrenta uma forte concorrência da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que domina atualmente o mercado de fundição de chips.
De acordo com dados recentes, a TSMC detém uma impressionante quota de mercado de 61%, enquanto a Samsung ocupa um distante segundo lugar com apenas 14%. Esta disparidade reflete-se nos resultados financeiros da divisão de fundição da Samsung, que tem acumulado prejuízos significativos nos últimos anos.
Estimativas de analistas sugerem que o negócio de fundição e design de chips lógicos da Samsung registou uma perda operacional de cerca de 2,4 mil milhões de dólares no ano passado. Para 2024, as projeções apontam para uma perda adicional de 1,54 mil milhões de dólares.
Estratégia de crescimento em tempos difíceis
Apesar destes números desanimadores, a Samsung parece determinada em perseguir uma estratégia de crescimento para a sua divisão de semicondutores. Lee enfatizou que a empresa está “faminta por crescer o negócio”, sugerindo que poderão estar a caminho investimentos adicionais e uma abordagem mais agressiva ao mercado.
Esta postura alinha-se com as ambições declaradas da Samsung em 2019, quando a empresa anunciou o objetivo de ultrapassar a TSMC até 2030. Para concretizar esta visão, a Samsung tem investido fortemente na expansão da sua capacidade de produção, abrindo novas fábricas na Coreia do Sul e nos Estados Unidos.
No entanto, estas iniciativas ainda não produziram os resultados esperados. Fontes próximas da situação revelaram à Reuters que a Samsung tem tido dificuldades em obter encomendas suficientes para utilizar toda a nova capacidade instalada.
Desafios técnicos e geopolíticos
A Samsung enfrenta não só desafios de mercado, mas também obstáculos técnicos e geopolíticos. Lee reconheceu que a nova fábrica da empresa em Taylor, Texas, está a enfrentar dificuldades, citando a “situação em mudança” e o clima eleitoral nos Estados Unidos como fatores complicadores.
Além disso, a empresa está a lidar com problemas de produção nas suas instalações na Coreia do Sul, particularmente no que diz respeito aos chips avançados de 3 nanómetros. Os rendimentos de produção destes chips têm ficado abaixo do necessário para justificar a produção em massa, representando um obstáculo significativo para as ambições da Samsung no mercado de semicondutores de ponta.
O dilema da integração versus separação
A decisão da Samsung de manter integrado o seu negócio de fundição levanta questões interessantes sobre a estrutura ideal para empresas de semicondutores. Alguns especialistas argumentam que uma separação poderia trazer benefícios, permitindo que a unidade de fundição se concentrasse exclusivamente no seu core business e potencialmente atraísse mais clientes.
Lee Jong-hwan, um antigo engenheiro da Samsung e atualmente professor de Engenharia de Sistemas de Semicondutores na Universidade SangMyung, defende que “em princípio, é melhor para a Samsung separar o seu negócio de fundição para ganhar a confiança dos clientes e focar-se no negócio”.
No entanto, o mesmo especialista reconhece que uma fundição independente poderia ter dificuldades em sobreviver sem o apoio financeiro do lucrativo negócio de chips de memória da Samsung. Esta interdependência sublinha a complexidade das decisões estratégicas no setor de semicondutores, onde economias de escala e sinergias entre diferentes linhas de negócio podem ser cruciais para o sucesso a longo prazo.
Perspetivas para o futuro da Samsung no mercado de semicondutores
A decisão da Samsung de manter a sua estrutura atual sugere que a empresa acredita que a integração vertical continua a ser a melhor estratégia para competir no exigente mercado de semicondutores. Ao manter o controlo sobre todo o processo, desde o design até à fabricação, a Samsung espera poder inovar mais rapidamente e responder de forma mais ágil às mudanças do mercado.
No entanto, o caminho pela frente não será fácil. A Samsung terá de superar os seus desafios de produção, melhorar os rendimentos dos seus processos avançados e conquistar a confiança de mais clientes para a sua fundição. Tudo isto enquanto compete com a TSMC, que continua a dominar o mercado e a investir agressivamente na expansão da sua capacidade.
O sucesso da estratégia da Samsung dependerá da sua capacidade de traduzir os seus investimentos em avanços tecnológicos tangíveis e em relações mais fortes com os clientes. Se conseguir fazê-lo, poderá estar bem posicionada para capitalizar o crescimento esperado na procura por chips avançados, impulsionado por tendências como a inteligência artificial, os veículos elétricos e a Internet das Coisas.
Para já, a mensagem da Samsung é clara: a empresa está comprometida com o seu negócio de semicondutores e acredita que a integração é o caminho para o sucesso a longo prazo. Resta saber se esta aposta audaciosa irá pagar dividendos num futuro próximo.
Outros artigos interessantes: