A World Press Photo não aceitará imagens geradas por IA em nenhuma das categorias a concurso. A decisão surge após uma forte reação da comunidade de fotojornalistas, que considerou inapropriado incluir imagens artificiais num concurso que visa documentar a realidade.
Por que razão a World Press Photo Foundation mudou de ideias?
A World Press Photo Foundation tinha inicialmente anunciado que aceitaria imagens geradas por IA na sua categoria de Formato Aberto, que é dedicada a “explorar novas formas de contar histórias visuais”. No entanto, a decisão foi rapidamente criticada por vários fotojornalistas, que argumentaram que isso iria contra os princípios do concurso e da profissão.
Um dos críticos foi o fotógrafo português Daniel Rodrigues, vencedor do World Press Photo em 2013, que disse ao jornal Público que “permitir imagens criadas artificialmente num concurso para fotojornalistas responsáveis por documentar eventos do mundo real era ‘um anátema para tudo o que a nossa indústria faz’”. Rodrigues acrescentou que “o fotojornalismo tem de ser fiel à realidade e não pode ser adulterado por ferramentas que criam imagens que não correspondem à verdade”.
Face à controvérsia, a World Press Photo Foundation voltou atrás e atualizou as suas regras de participação, excluindo imagens geradas por IA da categoria de Formato Aberto. A fundação reconheceu que tinha cometido um erro e agradeceu o feedback honesto e atencioso que recebeu nos últimos dias.
O que são imagens geradas por IA?
Imagens geradas por IA são aquelas que não foram captadas por uma câmara com lente, mas sim criada por um algoritmo que usa dados de outras fontes para gerar novas informações visuais. Por exemplo, uma aplicação que permite transformar uma fotografia numa pintura ou um programa que cria rostos de pessoas que não existem.
Estas imagens podem ter fins artísticos, recreativos ou educativos, mas também podem ser usadas para manipular, enganar ou falsificar a realidade. Por isso, é importante que os fotojornalistas e o público em geral sejam capazes de distinguir entre uma imagem real e uma imagem gerada por IA.
Como é que a World Press Photo Foundation define uma fotografia na era da IA?
A World Press Photo Foundation também atualizou as suas regras para a manipulação de imagens de fotografias “tiradas por uma câmara com lente”, tendo em conta que a tecnologia de IA está cada vez mais presente nas câmaras e no software de edição. A fundação distinguiu entre ferramentas de edição de IA que alteram a luz e ferramentas de edição de IA que introduzem novas informações.
As ferramentas de edição de IA que alteram a luz são aquelas que fazem ajustes automáticos nos níveis, cores, contraste ou redução de ruído, por exemplo. Estas ferramentas são aceitáveis, desde que não alterem o conteúdo ou o significado da imagem. A extensão destes ajustes será decidida pela organização do concurso e por um júri global.
As ferramentas de edição de IA que introduzem novas informações são aquelas que usam modelos de IA generativos para ampliar e tornar as imagens mais nítidas, como o Adobe Super Resolution e o Topaz Photo AI, por exemplo. Estas ferramentas são proibidas, pois criam detalhes que não estavam presentes na imagem original.
A World Press Photo Foundation também colaborou com outras instituições de fotojornalismo, jornalistas visuais e editores para desenvolver um conjunto de normas éticas claras, que visam garantir que as fotografias são representações justas e precisas do que o fotógrafo testemunhou e que não são produzidas de forma a enganar o público.
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