Narges Mohammadi, uma das vozes mais fortes na defesa dos direitos humanos e das mulheres no Irão, foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz 2023. A sua luta valeu-lhe várias prisões, condenações e torturas.
O Comité Nobel norueguês reconheceu o trabalho de Mohammadi “pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos”. A ativista é vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, fundado pela também laureada com o Nobel da Paz em 2003, Shirin Ebadi.
Mohammadi tem sido uma das principais opositoras ao hijab obrigatório para as mulheres e à pena de morte no Irão, um dos países que mais executa pessoas no mundo. Por causa da sua campanha, foi presa 13 vezes, condenada cinco vezes e sentenciada a 31 anos de prisão e 154 chicotadas.
Atualmente, Mohammadi está detida na prisão de Evin, em Teerão, juntamente com outras três mulheres que queimaram os seus hijabs em protesto pela morte de Amini, uma jovem que se imolou pelo fogo após ser detida por não usar o véu.
O Irão é um dos países mais desiguais do mundo em termos de género, segundo o Fórum Económico Mundial. No ano passado, as autoridades reprimiram violentamente a revolta “Mulher, Vida, Liberdade”, que exigia mais direitos e liberdades para as mulheres. Mais de 500 manifestantes foram mortos e milhares foram detidos.
Apesar da repressão, algumas mulheres continuam a desafiar o regime e a sair sem o véu em público, arriscando-se a serem presas ou agredidas. O uso do hijab é uma das marcas da república islâmica desde a revolução de 1979. As autoridades intensificaram os controlos e prenderam várias atrizes que mostraram as suas faces descobertas nas redes sociais.
O Comité Nobel norueguês apelou à libertação de Mohammadi para que ela possa receber o prémio em dezembro, em Oslo. “Se as autoridades iranianas tomarem a decisão certa vão libertá-la para que possa estar presente na cerimónia de entrega do prémio em dezembro”, disse Berit Reiss-Andersen, presidente do Comité.
A ONU saudou a atribuição do prémio a Mohammadi como um tributo à coragem das mulheres iranianas. “Realça realmente a coragem e a determinação das mulheres do Irão e a forma como são uma inspiração para o mundo”, afirmou Elizabeth Throssell, porta-voz do gabinete dos direitos humanos da ONU.
A família de Mohammadi expressou a sua alegria pelo prémio nas redes sociais, mas lamentou que ela não possa celebrar este “momento extraordinário”. Na sua página de Instagram, gerida pelos familiares enquanto está na prisão, escreveram que o prémio é uma honra para todos os iranianos, “especialmente para as mulheres e raparigas corajosas do Irão que cativaram o mundo com a sua bravura”.
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