Em artigos anteriores, falei aqui de como valerá a pena olhar para o preço de um EV (ou de qualquer outro carro) olhando para o custo total de propriedade (TCO) e de como o mercado de usados pode oferecer opções interessantes.
Mas, olhando para o mercado de EVs novos (em meados de 2023), a verdade é que o panorama não é tão mau como já foi, e oferece hoje dezenas de opções – ainda que muitas delas, admitidamente, a preços pouco convidativos!
Uma vez que acho que os EVs de gama média alta/alta competem taco-a-taco com os ICE em preço, neste artigo vou abordar sobretudo carros de cidade e pequenos familiares. Não vou dizer para irem a correr comprar um, apenas quero chamar a atenção para algumas opções que o mercado oferece e que poderão passar ao lado dos mais distraídos.
Lembro também que, no que diz respeito aos EVs novos, o Estado oferece (ainda) incentivos à sua compra que poderão adoçar a pílula.
Têm opinião diferente e preferiam optar por outros modelos? Deixem o vosso comentário no fundo desta página, e eu prometo juntar-me à discussão!
Citadinos
Neste momento acho que há dois EVs citadinos interessantes a preço não totalmente disparatado: o Smart EQ ForTwo e o Dacia Spring. O Renault Twingo E-Tech parece-me ter um preço ridículo (27 mil euros? A sério Renault?) e, infelizmente, a VW descontinuou o e-Up! e ainda não o substituiu – deverá surgir algures no futuro, como ID.1.
Tal como a versão ICE que o precedeu, o Smart EQ ForTwo é assumidamente citadino, e oferece apenas dois lugares. No entanto, se virmos que 99% das pessoas em hora de ponta estão sozinhas dentro de um veículo de 5 lugares, descobrimos que isto não é propriamente um problema!
O preço deste veículo não é excessivo face o que custava um Smart a combustão: a versão base, com bateria que oferece uma autonomia de 120 km (há quem diga 100 km “reais”, há quem diga mais), custa cerca de 23.000 euros. Como disse, não é barato, mas não é “pornográfico”… Se fosse para mim, contudo, optaria por pelo menos um extra: o carregador AC trifásico de 22 kW. São mais 995 euros mas, a menos que tenha como carregá-lo em casa/emprego, vale a pena.
Como expliquei num artigo anterior, para quem se limita a usar o carro para fazer a viagem diária de e para o emprego, a autonomia, embora “à justa”, chega e sobra.
Resta-nos o Dacia Spring. Trata-se de um pequeno SUV citadino de 4 lugares (mas de SUV tem apenas o aspeto, porque as dimensões são mesmo reduzidas) que é a versão Dacia do Renault K-Ze, veículo que a marca francesa criou para o mercado chinês, onde custa apenas 9.000€! A Portugal chegou a mais do dobro do preço mas, ainda assim, este é o mais barato EV de quatro lugares que é possível comprar novo por cá. O PVP da versão base é de 20.400€
A boa notícia é que a autonomia real é da ordem dos 200 km; a má notícia é que a versão-base não oferece carregamento AC trifásico ou rápido via DC – nem mesmo em opção. Para termos outras opções de carregamento temos que subir para a versão Extreme (22.400€) e desembolsar mais 600€ por um carregador DC que nos permitirá carregar mais rapidamente, mas mesmo assim apenas a uns parcos 30 kW. Mas é melhor que nada…
Mas para quem se desloca apenas dentro da cidade, há ainda uma “carta fora do baralho”: o Citroën AMI. Com preços a partir de 7.990€, este carrinho de 2 lugares não é, na realidade um automóvel. A sua classificação oficial no mercado português (e em muitos outros mercados europeus) é a de um “quadriciclo pesado” ou, como a marca francesa prefere, um “objeto de mobilidade urbana”.
Pode ser conduzido sem carta de condução a partir dos 16 anos e tem uma velocidade máxima limitada a 45 km/h – mais do que suficiente para circular dentro da cidade. É perfeito para ir de casa ao emprego (se ambas as coisas ficarem na mesma cidade), de casa para a escola (idem), ou para ir às compras no supermercado. Tem apenas 75 km de autonomia, o que chega e sobra para o que se pretende fazer com ele (não pode circular em autoestradas nem vias rápidas), e a sua pequena bateria pode ser totalmente recarregada numa tomada doméstica normal em 4 horas.
Em termos de pequenos citadinos, não há mais nada no mercado de EVs novos a preços decentes. O Renault Zoe tem preços a partir dos 35.000 euros (o Clio vende-se a partir dos 20.000€), o Peugeot e-208 custa no mínimo 33.000€ (19.000€ para a versão a gasolina) e o Opel Corsa-e fica por quase 35.000€ (18.000€ para a versão ICE). O fantasticamente lindo Honda e custa uns absurdos 43.000€! Por esses preços, aconselho vivamente subir de gama e pagar menos, como veremos a seguir.
Familiares compactos
Se subirmos de gama para familiares compactos encontramos várias opções no mercado, entre elas as do grupo VW (ID.3, Cupra Born) e as do grupo Hyundai/Kia. Problema? Começam quase todas acima dos 40 mil euros. Algumas, como o Citroën e-C4 ou a versão com a bateria mais pequena do Renault Megane e-Tech, apenas um pouco menos.
Uma proposta mais interessante vem da China e traz um nome britânico centenário: MG. O MG4 Electric é um EV criado de raiz para ser elétrico (ou seja, a plataforma não é adaptada da de um carro a combustão, o que permite uma melhor otimização do espaço interior vs tamanho exterior), com 5 lugares e autonomia decente. O preço? A partir de 33.000 euros – menos do que se paga por um EV europeu da gama imediatamente abaixo.
A Tesla e “os chineses”
Desde que escrevi este artigo até à sua data de publicação, duas coisas aconteceram no mercado português (e muitas mais irão acontecer até ao final deste ano!): a Tesla reduziu o preço do Model 3 (TM3) em Portugal ara 39.900€ e a BYD entrou no mercado através da Salvador Caetano.
A primeira notícia está a pôr o mercado em polvorosa porque, de repente, carros com muito menos autonomia (que é a métrica a que o pessoal mais dá importância) do que o TM3 mas com preços em torno dos 40.000€ simplesmente deixaram de fazer sentido (a menos que não queiram mesmo comprar um Tesla!). E até mesmo usados normalmente muito populares como os BMW i3 120 Ah, estão a ver os seus preços a serem também reduzidos.
E os beneficiados são, claro, os consumidores à procura do seu primeiro carro elétrico.
A segunda notícia não tem para já impacto, mas irá certamente ter a médio e longo prazo. A BYD é, neste momento, o maior fabricante mundial de carros “eletrificados” (EVs puros e PHEVs) e está a entrar na Europa em força.
Para já, e até tendo em vista esta redução de preços da Tesla (que também poderá não se manter por muito tempo), os seus carros não são propriamente competitivos. No entanto, com a chegada iminente de um familiar compacto e de um citadino, as coisas poderão alterar-se rapidamente.
Resumindo e concluindo: sim, sei que esta lista não é grande, mas há dois anos nenhum destes carros que indiquei como “competitivos” existia sequer! A lista só irá crescer no futuro, e o futuro é elétrico. Sobre isso, falarei no próximo artigo.
* António Eduardo Marques conduz diariamente um EV e é responsável pela página Mobilidade Elétrica no Facebook.
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