Nos últimos artigos falei sobre o preço dos EVs, a necessidade de ter em consideração o TCO e de olhar para o mercado de usados. Hoje quero aproveitar para detalhar um pouco mais esta ideia.
Penso que a reticência de muitas pessoas em considerarem sequer a possibilidade de comprarem um veículo elétrico prende-se com os mitos em torno das baterias – que irei abordar num próximo artigo.
Mas a verdade é esta: salvo casos muito específicos (como o dos Nissan Leaf, cujas baterias não têm qualquer tipo de gestão térmica), as baterias duram muitíssimo mais do que os próprios fabricantes esperavam. Aliás, isto é de tal forma que programas de reciclagem que deviam já ter arrancado, foram adiados por… falta de matéria-prima!
Um estudo recente de milhares de proprietários de EVs indica que em apenas 1,5% dos casos foi necessário substituir baterias e, destes, a maioria das substituições foi realizada durante o período da garantia.
O que sucede é que, ao contrário do que as pessoas pensam, as baterias dos EVs não se comportam como as baterias dos smartphones ou dos computadores portáteis. Os chamados BMS (sistema de gestão de baterias) dos EVs conseguem gerir os ciclos de carga/descarga de forma a maximizar a vida das baterias e, hoje, a esmagadora maioria dos EVs no mercado tem sistemas de gestão térmica (arrefecimento/aquecimento) das baterias que lhes permite não apenas prolongar a sua vida, mas assegurar que o carregamento é feito de forma ideal, como um mínimo de dano aos módulos da bateria.
Finalmente, é também comum que as garantias das baterias sejam de, pelo menos, 8 anos/160.000 quilómetros (a União Europeia pretende legislar em breve sobre o assunto), independentemente da garantia total do veículo, o que faz com que a escolha de um EV no mercado de usados seja bem menos arriscada do que seria de supor à primeira vista. Ou seja, se encontrar um EV com 100.000 quilómetros mas apenas 4 anos, a bateria estará ainda dentro da garantia e qualquer problema terá de ser resolvido pelo fabricante.
Um dos conselhos que costumo dar para quem pretende comprar um EV é o de se inscrever num grupo de proprietários desse modelo em particular no Facebook. É preciso ter algum cuidado, porque as pessoas tendem a usar as redes sociais apenas para relatar desgraças, mas dá para perceber se o modelo em questão tem problemas graves. Além disso, as pessoas nesses grupos são geralmente generosas com o seu tempo e paciência para dar bons conselhos e dicas a quem está agora a entrar no mercado dos veículos elétricos.
Pessoalmente, não aconselho a comprar diretamente a particulares (a menos que conheça a pessoa e saiba como costuma tratar os seus carros…); hoje, os stands de usados são obrigados a dar garantia sobre os veículos que vendem e, no caso de compras por parte de empresas, é a única forma de poder abater o IVA (porque é preciso alguém que passe uma fatura!).
Note-se contudo que, neste último caso, há stands que vendem EVs usados que não permitem recuperar o IVA. Normalmente isso vem assinalado no anúncio, mas convém verificar antecipadamente.
É também conhecido um esquema fraudulento que envolve especificamente os Renault Zoe mais antigos, em que modelos com contratos de aluguer de baterias foram vendidos como se tivessem baterias próprias.
Outras coisas que devem ser acauteladas no mercado de EVs usados são os carregadores incluídos nos veículos. Se o carro for apenas para ser usado em cidade e possa ser recarregado em casa ou no emprego, isto não é um problema; para outros cenários, convém ver quais as capacidades de carregamento rápido (DC, tomada CCS) e semi-rápido (AC, trifásico). No fundo, as mesmas preocupações para com um EV novo, mas aqui estamos sujeitos ao que está disponível, e não podemos escolher opções de fábrica.
No próximo artigo daremos uma volta pelo mercado de EVs novos e veremos quais as propostas mais interessantes.
* António Eduardo Marques conduz diariamente um EV e é responsável pela página Mobilidade Elétrica no Facebook.
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