Há já muito que historiadores de arte falavam da importância da poluição nos quadros de Claude Monet, mas um estudo científico veio agora prová-lo. As pinturas de Monet são uma verdadeira crónica visual da poluição.
Considerado o fundador do Impressionismo, Monet este três vezes em Londres, entre 1899 e1901. São os cerca de 100 quadros deste período britânico que levaram os investigadores a afirmar terem provas de que Monet foi como que um cronista visual da poluição.
Como muitas vezes acontece, o momento “eureka” surgiu como que por acaso. “Trabalho na poluição do ar e enquanto via pinturas de Turner, Whistler e Monet na Tate em Londres e no Musée d’Orsay em Paris, notei transformações estilísticas nas suas obras”. Quem o diz é Anna Lea Albright, investigadora pós-doutorada do Le Laboratoire de Météorologie Dynamique na Universidade de Sorbonne em Paris.
Em declarações à CNN, a investigadora — que é co-autora do estudo juntamente com Peter Huybers, professor de Ciências da Terra e Planetárias na Universidade de Harvard — afirma que “os contornos das suas pinturas tornaram-se mais nebulosos, a paleta parecia mais branca e o estilo mudou de mais figurativo para mais impressionista: essas mudanças estão de acordo com as expectativas físicas de como a poluição atmosférica influencia a luz”
Albright e Huybers analisaram mais de 100 obras de Monet e do pintor britânico Joseph Mallord William Turner, que morreu em 1850. No final, os investigadores concluíram que tinham uma crónica visual do aumento da poluição atmosférica na Inglaterra durante a Revolução Industrial.
Só a Grã-Bretanha passou de produzir 2,9 milhões de toneladas de carvão por ano em 1700 para 275 milhões de toneladas em 1900, levando a uma poluição atmosférica visível que causou problemas de saúde generalizados. A fuligem do carvão criou um nevoeiro denso e escuro, e o número de dias de nevoeiro em Londres triplicou entre 1850 e 1890, de 25 para 75 por ano, de acordo com o National Bureau of Economic Research, citado pela cadeia norte-americana.
Claude Monet e a poluição como inspiração
“Em geral, a poluição do ar faz com que os objetos pareçam mais nebulosos, torna mais difícil identificar as suas arestas, e dá à cena uma tonalidade mais branca, porque a poluição reflete luz visível de todos os comprimentos de onda”, disse Albright.
A equipa procurou estas duas métricas, força e brancura dos bordos, nas pinturas – convertendo-as em representações matemáticas baseadas no brilho – e depois comparou os resultados com estimativas independentes da poluição atmosférica histórica.
“O que considero realmente maravilhoso nestas obras é que Monet cria belos efeitos atmosféricos a partir de algo tão feio e sujo como fumo e fuligem”. Monet e Turner não se afastam da poluição, mas foram capazes de transformar estas mudanças ambientais negativas numa fonte de inspiração criativa”, afirma Anna Lea Albright.
Numa carta escrita de Londres em 2001, Claude Monet queixa-se à sua esposa da falta de estímulos: “Tudo é tão bom como morto, sem comboio, sem fumo, sem barco, nada que excite um pouco a inspiração”. Numa outra missiva, o pintor francês diz à sua mulher que estava “aterrorizado” com a falta de nevoeiro, mas ficou confortado quando “os fogos foram acesos e o fumo e a névoa voltaram”.