Quarta geração do iPad cedo demais?
O keynote de hoje da Apple foi fértil em novidades. Algumas eram esperadas, como o iPad Mini, mas o anúncio da quarta geração do iPad apanhou os analistas de surpresa. O novo equipamento é o tablet mais avançado de sempre mas a empresa de Cupertino pode ter dado um tiro no pé com consequências a longo prazo.
Não foi o meu caso, mas tenho a certeza absoluta que se tivesse comprado o iPad 3 (julgo que a partir de agora se passará a chamar assim) ficaria certamente muito zangado com a empresa agora liderada por Tim Cook, porque teria investido muito dinheiro num equipamento que ficou desactualizado muito rapidamente. Demasiado rapidamente.
Em pouco mais de 7 meses a Apple decretou o fim do tablet mais vendido de sempre e o pior foi tê-lo tornado completamente obsoleto relativamente ao novo produto. Com o seu processador AX6 dobra a capacidade de trabalho do tablet relativamente ao seu antecessor. É duas vezes mais rápido e tem uma capacidade gráfica duas vezes superior do que o iPad 3.
E apesar de ter sido anunciado como uma prova de que os engenheiros da companhia não dormem na forma independentemente do domínio total do mercado, a verdade é que a apresentação de um tablet que torna tão rapidamente obsoleto o último produto parece denotar, fundamentalmente, uma soberba.
Pela primeira vez na sua história, a Apple olhou fundamentalmente para o seu umbigo. Vejam como somos bons e não paramos de criar produtos fantásticos é a mensagem que a Apple nos trouxe nesta sua apresentação e as primeiras reações de desagrado já se fizeram sentir nas redes sociais.
Pela primeira vez na sua história, a Apple não olhou para o seu produto do ponto de vista do cliente. Até aqui sempre criaram produtos que produziam um inegável apelo junto dos seus clientes e conseguiram fidelizar milhões de consumidores em todo o mundo.
Havia o design, claro, e a qualidade dos produtos, mas uma das caraterísticas que mais fazia os clientes apostarem em produtos da empresa de Cupertino é a sua vida útil, muito maior do que os produtos da concorrência.
E essa era uma razão fundamental para as pessoas apostarem em produtos que normalmente são mais caros do que os equipamentos com que concorrem.
E foi este valor que a Apple feriu ao vir a público com um totalmente novo iPad apenas 7 meses depois de ter lançado o seu último tablet. A partir de agora, a questão que se coloca na altura de comprar um produto da empresa será sempre: Valerá a pena o investimento ou será melhor esperar mais uns meses?
É evidente que Tim Cook e os estrategas da Apple quiseram manter-se na linha da frente numa altura em que a Amazon começa a tornar-se um sério concorrente com o seu Kindle Fire HD e em que a Samsung aposta forte no Galaxy Note 10.1.
É também evidente que este pode ter sido apenas um reset na periodicidade dos lançamentos da Apple e que o ano de vida útil que os seus produtos costumam ter passe a contar a partir de agora.
Só o futuro dirá como será a reação dos consumidores, assim como apenas o futuro confirmará se estamos na presença de uma nova estratégia da Apple ou se este foi apenas um caso isolado. Ao fim e ao cabo, só quando a poeira assentar saberemos se a Apple deu um tiro no pé.
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