As recentes tarifas impostas pela administração Trump estão a abalar profundamente a indústria global de smartphones. O que começou como uma tentativa de reindustrialização dos Estados Unidos está agora a traduzir-se em custos mais elevados para os principais fabricantes — e, inevitavelmente, para os utilizadores. Com aumentos tarifários que chegam aos 125% sobre produtos oriundos da China, os efeitos já se fazem sentir em toda a cadeia de produção tecnológica.
Uma dependência difícil de contornar
A China continua a ser o centro nevrálgico da produção tecnológica global. Desde smartphones acessíveis até equipamentos de topo, grande parte do fabrico e montagem acontece em território chinês. E mesmo quando as marcas conseguem mover a montagem para países como o Vietname ou a Índia, continuam a depender fortemente das matérias-primas e componentes fornecidos pela China — sobretudo os minerais raros, essenciais para baterias, processadores e sistemas avançados de câmaras.
Com as novas tarifas norte-americanas a atingirem diretamente os produtos chineses, os custos aumentam em todos os segmentos. Analistas apontam para subidas de preço consideráveis: o iPhone 16 Pro Max, por exemplo, poderá passar dos atuais 1.599 euros para mais de 2.000 euros, se o impacto for repercutido integralmente no preço final. Outros modelos, como o Pixel 9 Pro, poderão também ver aumentos superiores a 400 euros. E mesmo os smartphones de gama média ou mais económica não escapam ao efeito dominó.

A resposta das marcas
Face a este novo cenário, os fabricantes estão a acelerar estratégias de diversificação. A Samsung, por exemplo, já tinha investido fortemente em fábricas no Vietname, Índia e Brasil. Mais de metade dos seus smartphones já são produzidos fora da China, o que lhe dá uma vantagem relativa.
A Apple, por outro lado, está mais exposta: cerca de 90% dos seus iPhones continuam a ser fabricados em território chinês. Para reduzir essa dependência, a empresa anunciou um plano de investimento de 500 mil milhões de dólares nos EUA, que inclui a construção de um centro de dados no Texas e a criação de 20 mil novos postos de trabalho. Contudo, a transição não é simples — além de ser dispendiosa, é tecnicamente desafiante replicar a complexa cadeia de fornecimento que existe na China.
Além disso, algumas empresas tentam negociar isenções tarifárias junto da administração americana, mas estas soluções são temporárias e incertas, sobretudo numa presidência marcada por decisões voláteis.
Um sector em alerta máximo
A instabilidade causada por estas políticas comerciais não afeta apenas os smartphones. O modelo de produção global, otimizado ao longo de décadas para reduzir custos e acelerar lançamentos, está agora a ser repensado. A pressão para garantir cadeias de fornecimento mais resilientes é cada vez maior, mas o caminho será lento e dispendioso.
Mesmo que algumas tarifas venham a ser suspensas ou reduzidas, o sector tecnológico está em alerta. A possibilidade de novas medidas imprevisíveis continua a pairar, obrigando as empresas a adotar planos de contingência que inevitavelmente contribuem para o aumento dos preços.
O resultado? Os utilizadores, tanto nos EUA como no resto do mundo, devem preparar-se para pagar mais pelos seus dispositivos. O tempo dos smartphones acessíveis pode estar a chegar ao fim, e o mercado começa a ajustar-se a uma nova realidade onde a geopolítica dita o preço da tecnologia no teu bolso.
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