Uma empresa de energia na Sibéria foi recentemente multada por ter ocultado uma operação ilegal de mineração de criptomoedas em terrenos destinados exclusivamente a serviços públicos. A multa, no valor de 330.000 rublos (aproximadamente 3.000 euros), foi aplicada pelo Ministério Público da Região de Irkutsk, que decidiu ainda avançar com um processo administrativo contra a empresa.
Esta descoberta surge num momento crucial, uma vez que a Rússia prepara-se para implementar, já no próximo ano, medidas rigorosas contra a mineração ilegal de criptomoedas. O caso é particularmente relevante porque envolve uma empresa de fornecimento de energia, que deveria estar a proteger a infraestrutura elétrica em vez de comprometê-la.
A Sibéria tornou-se um local privilegiado para a mineração de criptomoedas devido aos seus baixos custos operacionais, beneficiando das temperaturas frias e do fornecimento de energia a preços reduzidos. No entanto, esta atividade tem causado sérios problemas aos habitantes locais, que frequentemente enfrentam apagões e instabilidade na rede elétrica, situação particularmente grave durante os meses de inverno.
O paradoxo da mineração na Rússia
A relação da Rússia com a mineração de criptomoedas é complexa e, por vezes, contraditória. Em 2023, o país ascendeu à posição de segundo maior minerador de Bitcoin do mundo, tendo gerado mais de 3 mil milhões de dólares em bitcoin. O governo russo chegou mesmo a legalizar a mineração e a aprovar a utilização de criptomoedas no comércio internacional, após constatar receitas fiscais na ordem dos 550 milhões de dólares.
No entanto, a mineração ilegal continua a ser um problema significativo, principalmente porque não gera receitas fiscais e causa graves perturbações no fornecimento de energia. Como resposta, o governo russo planeia implementar, em 2025, uma proibição total da mineração de criptomoedas em 10 regiões, durante um período de seis anos.
Adicionalmente, serão impostas restrições sazonais que afetarão as operações de mineração durante os meses mais frios do inverno em regiões como Irkutsk, onde as temperaturas negativas tornam o fornecimento estável de energia uma questão de sobrevivência.
Impacto na rede elétrica nacional
O próprio presidente Vladimir Putin manifestou preocupação com a situação, alertando que a mineração de criptomoedas consome atualmente cerca de 1,5% do consumo total de eletricidade da Rússia, um número que continua a aumentar. Esta realidade tem levado muitos mineradores ilegais a procurarem alternativas cada vez mais criativas para evitar a deteção, incluindo a instalação de equipamentos em locais subterrâneos.
As autoridades têm intensificado as ações de fiscalização, tendo já apreendido centenas de equipamentos de mineração em Irkutsk. No entanto, o facto de uma empresa de fornecimento de energia estar envolvida num esquema ilegal levanta sérias questões sobre a eficácia das medidas de controlo existentes.
Apesar de a empresa em questão não ter sido identificada publicamente, este caso expõe uma realidade preocupante: a possível cumplicidade de entidades que deveriam estar a proteger a infraestrutura energética do país. Esta situação põe em causa não só a estabilidade da rede elétrica, mas também a própria segurança energética das comunidades locais durante os períodos mais críticos do ano.
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