Com os Estados Unidos a produzir apenas 12% da sua necessidade interna de semicondutores, torna-se urgente expandir a capacidade de fabricação doméstica.
A pandemia de Covid-19 e a rápida transformação digital expuseram a volatilidade da cadeia global de fornecimento, levando empresas a priorizar o abastecimento desses componentes críticos para garantir a continuidade das operações.
Dependência estratégica e segurança nacional
O fornecimento de semicondutores é agora considerado vital para a segurança nacional e o desenvolvimento económico dos países desenvolvidos. Estes componentes são essenciais para setores como a defesa, a indústria e a tecnologia, que dependem da sua disponibilidade para manter a competitividade a nível global.
Atualmente, 95% dos chips avançados são produzidos pela TSMC em Taiwan, com a Samsung da Coreia do Sul a ocupar uma posição relevante. Especialistas apontam que uma eventual invasão chinesa a Taiwan poderia ter graves consequências no abastecimento de semicondutores, afetando várias indústrias a nível mundial.
Políticas norte-americanas e o futuro da indústria de semicondutores
O CHIPS Act, promulgado pela administração Biden em agosto de 2022, destinou até 53 mil milhões de dólares para apoiar a produção, investigação e desenvolvimento de semicondutores nos Estados Unidos.
Empresas como a TSMC, a Samsung e a Intel anunciaram planos de investimento em novas fábricas no país, prevendo-se um aumento significativo da capacidade produtiva até 2032. Segundo a US Semiconductor Industry Association, esta política poderá triplicar a capacidade de fabricação doméstica de semicondutores até ao final da próxima década.
Contudo, Donald Trump manifestou oposição ao CHIPS Act, alegando que este programa subsidia grandes empresas que já obtêm lucros substanciais. Durante uma entrevista recente, Trump criticou o uso de fundos federais para apoiar empresas estrangeiras, como a TSMC e a Samsung, que já beneficiam de subsídios significativos nos seus países de origem.
Impacto potencial de tarifas comerciais
Existe ainda a preocupação de que Trump imponha tarifas adicionais sobre as importações, afetando a cadeia de abastecimento global de semicondutores. Atualmente, os EUA dependem de importações para diversos componentes usados na produção de chips, incluindo materiais críticos como germânio e gálio, cujo fornecimento é restrito pela China.
De acordo com especialistas, tarifas adicionais poderiam aumentar os preços para empresas e consumidores, além de complicar ainda mais o já complexo panorama da cadeia de fornecimento.
A entrada em funcionamento das novas fábricas nos EUA, previstas para 2026, poderá não ser suficiente para atenuar a escassez, especialmente se novas tarifas forem implementadas.
Países aliados, como a Alemanha e a França, já manifestaram a intenção de reforçar a soberania europeia na produção de semicondutores, em resposta a potenciais políticas comerciais mais restritivas dos EUA.
Consequências e possíveis repercussões globais
Alguns analistas prevêem que a imposição de tarifas poderá levar parceiros comerciais dos EUA a procurar novos acordos bilaterais, alterando as relações comerciais globais. Esta situação pode beneficiar a China, que poderá encontrar novas oportunidades de cooperação com países que desejam evitar as tarifas norte-americanas .
Segundo Christopher Granville, da TS Lombard, é improvável que Trump revogue totalmente o CHIPS Act, mas poderá limitar os recursos destinados à sua execução, afetando assim a expansão prevista da indústria de semicondutores nos EUA.
Estas dinâmicas complexas destacam a importância estratégica dos semicondutores para o futuro da economia global, com potencial para redefinir alianças comerciais e impactar setores cruciais, como a inteligência artificial, a indústria automóvel e a eletrónica de consumo.
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