A agência espacial norte-americana deu início a uma ambiciosa missão para investigar Europa, uma das luas de Júpiter, em busca de sinais de vida extraterrestre. A sonda Europa Clipper partiu na passada segunda-feira do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, a bordo de um foguetão Falcon Heavy da SpaceX.
O lançamento marca o início de uma jornada de 5 anos e meio até Júpiter, onde a Europa Clipper irá realizar 49 sobrevoos próximos de Europa. Esta lua gelada é considerada um dos locais mais promissores do Sistema Solar para encontrar vida para além da Terra.
Com um custo de 5,2 mil milhões de dólares, trata-se da missão de exploração planetária mais dispendiosa da história da NASA. A sonda Europa Clipper é também a maior nave espacial alguma vez enviada para explorar outro corpo celeste, pesando mais de 5,7 toneladas e com painéis solares que se estendem por 30 metros.
O foguetão Falcon Heavy, o mais potente atualmente em operação, foi utilizado na sua configuração máxima para impulsionar a sonda até à velocidade necessária para escapar à gravidade terrestre. Isto implicou sacrificar a recuperação dos propulsores, que normalmente são reutilizados pela SpaceX.
À procura de um oceano escondido
Europa é ligeiramente menor que a Lua da Terra, mas esconde segredos fascinantes sob a sua superfície gelada. Desde as primeiras imagens detalhadas enviadas pelas sondas Voyager em 1979 que os cientistas suspeitam da existência de um vasto oceano líquido sob a crosta de gelo.
“Esta é uma missão épica”, afirmou Curt Niebur, cientista do programa Europa Clipper na sede da NASA. “É uma oportunidade para explorarmos não um mundo que pode ter sido habitável há milhares de milhões de anos, mas um que pode ser habitável hoje, neste preciso momento.”
A sonda está equipada com nove instrumentos científicos de última geração para estudar Europa em detalhe. Entre as suas capacidades, destacam-se:
- Um radar capaz de penetrar o gelo e detetar bolsas de água líquida
- Câmaras de altíssima resolução para mapear a superfície
- Sensores para analisar a composição química da crosta e da ténue atmosfera
- Magnetómetros para medir a profundidade e salinidade do oceano subterrâneo
Ingredientes para a vida alienígena
Os cientistas acreditam que Europa reúne as três condições essenciais para o surgimento de vida: água líquida, compostos orgânicos e uma fonte de energia. As forças gravitacionais exercidas por Júpiter provocam intensas marés no interior da lua, gerando calor que pode manter a água no estado líquido.
“Na Terra, encontramos vida em praticamente todos os locais onde existe água líquida, compostos orgânicos e uma fonte de energia”, explicou Bob Pappalardo, cientista-chefe da missão. “Europa parece ter todos estes ingredientes, o que a torna num dos alvos mais promissores na nossa busca por vida além da Terra.”
Um dos objetivos mais ambiciosos da missão é tentar detetar plumas de vapor de água que ocasionalmente irrompem através de fissuras na superfície gelada. Se a sonda conseguir voar através de uma destas plumas, poderá analisar diretamente o material proveniente do oceano subterrâneo.
Desafios técnicos e expectativas científicas
A Europa Clipper terá de enfrentar condições extremas durante a sua missão. A superfície de Europa está exposta a níveis letais de radiação proveniente do campo magnético de Júpiter, o que limita o tempo que a sonda pode passar nas proximidades da lua.
Para contornar este obstáculo, a nave irá descrever uma órbita elíptica ao redor de Júpiter, aproximando-se de Europa apenas durante breves períodos. Nos seus sobrevoos mais rasantes, chegará a apenas 25 quilómetros da superfície.
“Cada sobrevoo será como beber de uma mangueira de incêndio em termos de dados científicos”, comentou Bonnie Buratti, cientista adjunta do projeto. “Esperamos uma avalanche de novas descobertas sobre a geologia, química e potencial habitabilidade de Europa.”
O sonho de encontrar vida extraterrestre
Embora a Europa Clipper não esteja equipada para detetar diretamente organismos vivos, os seus dados poderão revelar ambientes propícios à vida. Se as descobertas forem promissoras, é provável que a NASA considere uma futura missão para pousar em Europa.
“Se a Europa Clipper nos disser que sim, os ingredientes para a vida estão lá, podem apostar que estaremos a bater à porta a lutar por uma segunda missão para ir à procura de vida”, afirmou Curt Niebur.
A chegada da sonda a Júpiter está prevista para abril de 2030. A partir daí, iniciará uma fase de observações que se prolongará por pelo menos três anos. Os cientistas esperam que os dados recolhidos revolucionem a nossa compreensão de Europa e do potencial para a existência de vida em mundos gelados para além da Terra.
Outros artigos interessantes: