A pacata Corsicana, no Texas, está prestes a tornar-se o epicentro da mineração de Bitcoin. A empresa Riot Platforms está a construir aquela que será a maior instalação do género no mundo, gerando preocupações entre os habitantes locais.
Corsicana, uma cidade com cerca de 24 mil habitantes no condado de Navarro, tem uma longa história ligada à indústria petrolífera. Foi aqui que se iniciou o boom do petróleo no Texas em 1894, quando uma perfuração em busca de água acabou por revelar um vasto campo petrolífero.
Hoje, a realidade é bem diferente. A produção de petróleo diminuiu drasticamente e a cidade enfrenta desafios económicos, com uma taxa de pobreza acima da média nacional. As ruas apresentam sinais de degradação e vários bairros são marcados por casas em mau estado.
É neste cenário que surge a promessa de uma nova indústria: a mineração de criptomoedas. A Riot Platforms está a desenvolver uma instalação de 265 hectares nos arredores da cidade, com o objetivo de se tornar a maior mina de Bitcoin do mundo.
O impacto ambiental e social da mineração de Bitcoin
A mineração de Bitcoin é um processo que exige uma enorme quantidade de energia. Quando estiver a funcionar na sua capacidade máxima, a instalação da Riot consumirá até um gigawatt de energia, o equivalente ao consumo de centenas de milhares de casas.
Esta realidade gera preocupações entre os habitantes locais. Jackie Sawicky, fundadora da Texas Coalition Against Cryptomining, lidera um movimento de protesto contra o projeto. As suas principais preocupações incluem o ruído excessivo, o consumo de recursos hídricos e a sobrecarga da rede elétrica.
Brian Morgenstern, responsável de políticas públicas da Riot, argumenta que a empresa terá um impacto positivo na comunidade. Segundo ele, a mina de Bitcoin contribuirá para estabilizar a rede elétrica, desligando-se em momentos de pico de procura e incentivando o investimento em novas fontes de energia.
O dilema das autoridades locais
As autoridades de Corsicana e do condado de Navarro encontram-se numa posição delicada. Por um lado, veem na Riot uma oportunidade de expansão da base fiscal e criação de empregos. Por outro, enfrentam a crescente oposição de uma parte da população.
John Boswell, diretor de desenvolvimento económico de Corsicana e do condado de Navarro, acredita que o projeto estimulará o crescimento económico e beneficiará todos os residentes. No entanto, a pressão pública já levou os comissários do condado a adiar a votação de um abatimento fiscal de 6 milhões de dólares para a Riot.
Lições de outras comunidades afetadas pela mineração de Bitcoin
A experiência de outras localidades do Texas serve de alerta para Corsicana. Em Granbury, a cerca de 100 quilómetros de distância, os residentes queixam-se do ruído constante produzido por uma mina de Bitcoin da Marathon Digital Holdings.
Cheryl Shadden, uma enfermeira que vive perto da instalação, relata problemas de saúde como insónias, náuseas e zumbido nos ouvidos. Outros vizinhos partilham queixas semelhantes, levando a empresa a prometer melhorias no isolamento acústico e a transição para um sistema de arrefecimento mais silencioso.
O futuro incerto de Corsicana
À medida que a construção da mina de Bitcoin avança, Corsicana prepara-se para uma nova era. Alguns residentes, como Gerald Woods, já sentem dificuldades em vender as suas propriedades devido à proximidade da instalação.
A divisão política em torno do tema complica ainda mais a situação. Num estado predominantemente republicano, onde o apoio às criptomoedas é frequentemente visto como uma posição alinhada com o partido, os opositores do projeto enfrentam desafios adicionais.
Jackie Sawicky, desiludida com o rumo dos acontecimentos, planeia deixar o Texas. No entanto, promete continuar a sua luta contra a indústria de mineração de criptomoedas à distância, agora com um foco mais amplo a nível nacional.
Enquanto isso, Corsicana aguarda para ver como esta nova tecnologia transformará a sua paisagem e economia, tal como o petróleo fez há mais de um século. Como resume Wayne Brooks, proprietário de uma loja local: “O que posso fazer? Não se pode parar o progresso.”
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