Jack Teixeira, o membro da Guarda Nacional Aérea que divulgou documentos militares confidenciais no Discord, concordou em declarar-se culpado na segunda-feira, esperando colaboração com as autoridades para reduzir a sua sentença e rastrear outros documentos governamentais secretos que possam ter sido divulgados.
Pelo acordo assinado, Teixeira poderá ver a sua sentença bastante reduzida, segundo reportou o The Boston Globe, que deverá ficar entre os 11 e os 16 anos e oito meses de prisão.
Espionagem não provada
Originalmente, Teixeira tinha-se declarado inocente das seis acusações de “retenção e transmissão intencional de informação de defesa nacional”, que poderiam resultar numa pena de 10 anos por acusação. Os procuradores sugeriram, numa audiência anterior ao julgamento, uma pena combinada de até 25 anos de prisão, revelou o The Globe.
Com este acordo, Teixeira evita ser acusado de violações da Lei de Espionagem, segundo reportou o The New York Times. Evitará também acusações de recolha ilegal e remoção não autorizada de documentos militares considerados “top-secret”.
Transcrições e fotografias partilhadas com amigos
Segundo revelam os procuradores, o jovem de 22 anos estaria claramente interessado em partilhar os documentos sensíveis — que incluíam segredos de segurança nacional relacionados com adversários e aliados dos EUA, incluindo a Rússia, a China, a Ucrânia e a Coreia do Sul — apenas para impressionar amigos no Discord, onde alguns dos seus contactos eram adolescentes. A investigação não encontrou quaisquer indícios de espionagem.
O Juiz Distrital dos EUA, Indira Talwani, irá decidir se assina ou não este acordo numa audiência agendada para 27 de setembro.
Jovem “muito arrependido” diz o advogado
Teixeira encontra-se detido desde abril do ano passado, quando uma colaboração entre o Discord e o FBI ajudou a localizar a fonte por detrás das fugas de documentos.
A polémica suscitou várias questões sobre o sistema de acesso a documentos altamente sensíveis dentro do governo norte-americano. Segundo uma declaração do FBI, Teixeira recebeu acesso a documentos de segurança máxima aos 19 anos, enquanto técnico informático de baixo nível numa base militar de Massachusetts. A Business Insider estima que mais de 2 milhões de trabalhadores possuam autorização similar.
Obsessão militar desde a infância
Teixeira cresceu numa família com tradição militar, numa pequena cidade conservadora de Massachusetts, e desde cedo desenvolveu uma obsessão pelo tema. Alguns colegas de infância recordam-se do seu comportamento, considerando a sua fixação por armas e assuntos militares “perturbadora”, com Teixeira a adquirir a reputação de fazer “coisas malucas” para chamar a atenção, relata o The Times.
Uma vez destacado em Massachusetts, começou a divulgar documentos, transcrevendo informação confidencial e partilhando-a online. Como tal não gerou a atenção que esperava, terá passado a imprimir documentos sigilosos e a levá-los para casa. O The Times revela que foi avisado por um superior para parar, o que não o dissuadiu.
Uma comunidade tóxica no Discord
Querendo impressionar uma comunidade com cerca de 25 membros enquanto administrador de um servidor do Discord chamado “Thug Shaker Central”, Teixeira fotografava documentos confidenciais roubados e partilhava-os na plataforma. Esta comunidade — que o The Times descreve como centrada em “armas, assassínios em massa e teorias de conspiração sombrias” — supostamente tinha instruções para não divulgar os ficheiros.
No entanto, a investigação da Bellingcat concluiu que os amigos de Teixeira partilharam largamente os documentos, inicialmente noutros servidores do Discord e depois em plataformas como o Telegram, 4Chan e Twitter (agora “X”).
Teixeira terá ainda recorrido ao seu acesso para tentar descobrir se era suspeito da fuga de documentos. Sentindo o FBI a aproximar-se, tomou medidas extremas para despistar a investigação, mudando de servidores no Discord para confundir a perseguição e dizendo aos amigos para apagarem qualquer conteúdo que pudessem ter relacionado com ele.
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