O SocialFi é uma junção dos termos “rede social” e “finanças” (em inglês, “Social media” e “Finance”, respetivamente). A ideia é permitir que os utilizadores interajam entre si numa plataforma de rede social, onde as próprias interações são monetizadas.
É um pouco como funciona o Patreon: como criador, podemos restringir o acesso aos nossos conteúdos apenas a utilizadores pagantes. Os utilizadores de uma plataforma SocialFi trabalham com os mesmos princípios, mas com uma diferença importante – os criadores de conteúdo podem interagir diretamente com os seus utilizadores, sem precisar de um intermediário centralizado. Vejamos alguns elementos de uma plataforma SocialFi:
• A propriedade digital de conteúdo exclusivo é determinada por NFTs.
• Organizações autónomas descentralizadas (DAOs) são responsáveis pela governança do protocolo.
SocialFi vs. DeSoc
O SocialFi e as Redes Sociais Descentralizadas (DeSoc) certamente partilham muitos pontos em comum, mas divergem num ponto-chave: o SocialFi foca-se na monetização de interações sociais. Em relação a essa diferença, observamos um comportamento parecido entre o Patreon e o Instagram – embora ambas as plataformas hospedem conteúdo e envolvam o público, a intenção principal de cada uma é distinta: uma enfatiza as transações monetárias e a outra as ligações sociais.
Porque é que o SocialFi é necessário?
As redes sociais mudaram profundamente a forma como comunicamos, partilhamos e monetizamos as nossas interações. No entanto, as plataformas Web2 atuais não conseguem realmente capacitar os utilizadores. Elas centralizam o controlo, enfraquecem o valor individual das marcas e levantam questões sobre censura, privacidade e a monetização de dados.
O SocialFi está profundamente associado aos valores e princípios fundamentais da Web3. Ele redefine as interações sociais online ao introduzir tokens sociais vinculados ao valor individual de cada marca. Os utilizadores não são mais meros participantes passivos no modelo de receita de uma plataforma; em vez disso, podem monetizar efetivamente a sua influência, interações e conteúdo.
Esta tokenização muda o equilíbrio de poder, colocando o controlo e o valor nas mãos dos colaboradores individuais, em vez de entidades centralizadas. O “capital social” deixa de ser uma métrica abstrata. Com os tokens sociais, seu capital social pode ser efetivamente calculado e gerido.
O SocialFi preenche a lacuna entre a marca pessoal, a criação de conteúdo e o comércio numa era digital descentralizada. O conceito promete um ecossistema social mais equitativo, transparente e que capacita os utilizadores, onde estes são reconhecidos, recompensados e têm controlo sobre a sua presença e as suas interações online.
Além da monetização, o SocialFi aborda a tensão contínua entre censura e liberdade de expressão. Ao promover a curadoria descentralizada, a moderação de conteúdo torna-se uma responsabilidade coletiva, democratizando o processo e reduzindo possíveis vieses de sistemas centralizados.
Projetos SocialFi populares
Vejamos alguns projetos SocialFi populares.
Friend.tech (BASE)
Friend.tech é uma nova app descentralizada na Base, que permite aos criadores monetizarem o seu conteúdo através de tokens sociais. O sistema exclusivo de “Keys” oferece acesso aos chats privados do criador e outros benefícios exclusivos.
À medida que a plataforma Friend.tech se desenvolve, ela promete revolucionar as interações entre criadores e comunidades, embora a devida diligência seja essencial devido ao estágio inicial do projeto. A plataforma Friend.tech pode ser considerada como o maior projeto SocialFi atual, puramente com base no entusiasmo que gerou.
Stars Arena (Avalanche)
Stars Arena, uma plataforma Web3 na rede Avalanche, permite aos utilizadores monetizar o seu conteúdo vinculando suas contas do Twitter e fazendo transações via AVAX. A Stars Arena é um ‘fork’ do Friend.tech e também permite que influenciadores monetizem seu trabalho para a sua base de fãs, oferecendo conteúdos exclusivos.
Apesar de sua popularidade crescente, a Stars Arena também enfrenta desafios. Uma vulnerabilidade (‘exploit’) recente resultou numa perda de US$ 2.000, embora o problema tenha sido resolvido.
Quais são os benefícios do SocialFi?
Estas são algumas das vantagens do SocialFi:
- Armazenamento descentralizado: todos os dados do SocialFi são armazenados na blockchain. Isso garante que os seus dados não serão utilizados indevidamente por uma entidade centralizada. Além disso, o SocialFi oferece uma redução significativa dos riscos associados ao vazamento de dados pessoais e à potencial utilização indevida de dados.
- Tokens de recompensas: tanto os criadores de conteúdo quanto os utilizadores regulares podem ganhar tokens como recompensa por interação e partilhas de conteúdo.
- Tokenização da atenção: os utilizadores são incentivados a produzir conteúdo de alta qualidade que atraia atenção e interações.
- Propriedade do conteúdo: os utilizadores mantêm os direitos de propriedade sobre os seus conteúdos, solucionando problemas relativos à perda de direitos sobre os materiais enviados.
- Proteção contra expulsões na plataforma: como a governança é gerida por uma DAO, há menos preocupações relacionadas a expulsões repentinas na plataforma, que muitas vezes são meros caprichos de uma entidade centralizada.
- Liberdade de expressão: ao mitigar as preocupações com a censura, as plataformas SocialFi podem-se tornar ferramentas essenciais para preservar a liberdade de expressão e a proteção de dados.
Quais são os desafios do SocialFi?
Mas nem tudo são vantagens. Vejamos alguns obstáculos que podem impedir a adoção em massa de aplicativos SocialFi.
- Escalabilidade: Plataformas de redes sociais como o Facebook e o Twitter investiram milhões de dólares em servidores e bases de dados capazes de lidar com enormes quantidades de informação. O Facebook lida com milhões de comentários, estados e uploads de fotos, gerando cerca de 4 Petabytes de dados diariamente. Como é que as aplicações de redes sociais da Web3 podem lidar com tantos dados sem intervenção centralizada? Para resolver esse problema, os desenvolvedores estão a experimentar várias técnicas de escalabilidade, como sharding e armazenamento off-chain.
- Sustentabilidade: Para atrair uma grande quantidade de utilizadores, as plataformas de SocialFi ofereceram recompensas de tokens tentadoras, que são insustentáveis a longo prazo. Embora a ideia de tokenizar o capital social seja altamente inovadora, o facto é que o valor desses tokens ainda está ligado às ações do influenciador. Por exemplo, uma publicação negativa de um influenciador pode fazer o valor dos seus tokens sociais associados cair abruptamente, potencialmente criando um ciclo de feedback negativo.
Considerações finais
O SocialFi representa uma mudança transformadora no cenário das redes sociais, fundindo os seus princípios com o das finanças descentralizadas. Essencialmente, o SocialFi busca capacitar os utilizadores, dando-lhes controlo sobre os seus dados, garantindo a verdadeira propriedade do conteúdo e fornecendo formas de monetização direta, sem intermediários.
Embora plataformas como Friend.tech e Stars Arena sejam pioneiras nesse movimento, o caminho ainda apresenta desafios. As preocupações com a escalabilidade no domínio descentralizado e a sustentabilidade dos modelos económicos são questões pertinentes. No entanto, a promessa do SocialFi de proporcionar um espaço social digital mais equitativo e transparente, onde os utilizadores podem verdadeiramente monetizar seu capital social, sinaliza uma emocionante evolução na forma como percebemos e participamos das interações sociais online.
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