Apesar de a considerarem muito importante, metade das empresas portuguesas não tem tecnologia para prevenir fraude e a corrupção, revela um estudo.
A tecnologia é considerada muito importante por 92% das empresas portuguesas para prevenir casos de fraude e corrupção, mas apenas 52% delas dispõem de ferramentas tecnológicas para o fazer. Esta é uma das conclusões do estudo ‘Corruption & Fraud Survey’ de 2023, realizado pela Deloitte, que inquiriu 137 empresas portuguesas sobre a sua perceção e experiência de riscos de fraude e corrupção e as medidas de prevenção adotadas.
Poucos com IA dedicada
Segundo o estudo, as ferramentas tecnológicas mais usadas pelas empresas que afirmam ter esse tipo de suporte são as ferramentas especializadas de analytics para a deteção de fraude (39%) e as ferramentas para background checks (38%).
No entanto, apenas uma pequena parte dos inquiridos usa ferramentas como inteligência artificial direcionada para a deteção de padrões de fraude (14%) ou procedimentos especializados em eDiscovery (12%). Os principais desafios associados à tecnologia em matéria de prevenção de fraude são a necessidade de alteração e integração dos sistemas internos existentes (30%) e os custos elevados de software e hardware (26%).
O estudo revela ainda que quase um terço das empresas portuguesas (31%) não tem uma estrutura definida para prevenir a ocorrência de corrupção e outras infrações conexas. Entre as que têm, a existência de um código de conduta/código de ética (65%) e de um canal de whistleblowing (60%) são os procedimentos mais frequentes. No entanto, o funcionamento de um canal de whistleblowing nem sempre é livre de obstáculos: 31% apontam a cultura da organização como o desafio mais significativo para o funcionamento eficaz deste canal na sua organização, seguido da dificuldade em passar a mensagem que a denúncia é uma responsabilidade coletiva (25%), e da relutância em denunciar devido ao medo de repercussões (23%).
Aumento de fraude no mercado empresarial e perda de receitas
O estudo da Deloitte mostra também que cerca de um terço das empresas inquiridas (37%) consideram que se verificou um aumento ligeiro do número de ocorrências de fraude no mercado empresarial no último ano e 18% consideram que esse aumento foi significativo. Estes números representam um pequeno aumento face à edição do ano anterior do estudo.
Além disso, 23% das empresas inquiridas experienciaram eventos de fraude ou conduta imprópria no último ano, sendo os crimes cibernéticos, fraudes tecnológicas e o desvio de fundos/apropriação indevida de ativos as ocorrências mais comuns. Quando questionados sobre qual o principal motivo para estes eventos, quase metade (46%) referiram a existência de sistemas de controlo ineficientes, seguida pela falta de valores éticos (32%).
Quando questionados sobre os principais riscos de corrupção e infrações conexas enfrentados pelas suas próprias empresas, mais de metade dos inquiridos (63%) referiu a existência de conflitos de interesses não divulgados, revelando uma elevada preocupação com este risco.
O estudo indica ainda que a integridade é tida como um valor fundamental na gestão empresarial, sustentando alicerces éticos e transparentes em todas as ações organizacionais. Um exemplo disto é o facto de grande parte dos inquiridos (91%) considerarem que a sua empresa promove uma abordagem de não tolerância à corrupção e infrações conexas, demonstrada principalmente pela liderança pelo exemplo (55%), pelo desenvolvimento de planos formativos especializados e direcionados (42%) e procedimentos recorrentes de auditoria interna e externa (41%).
No entanto, a integridade não é apenas uma questão de valores, mas também de resultados. Em linha com esta consideração, 16% dos inquiridos admitiram que a sua empresa perdeu receitas nos últimos dois anos em resultado de casos de fraude e corrupção. Apesar disso, 47% das empresas inquiridas referem não terem implementado na sua organização algum procedimento de verificação de integridade de terceiros.
Sobre o estudo
O ‘Corruption & Fraud Survey’ de 2023 é um estudo realizado pela Deloitte, que se baseia num inquérito a 137 empresas portuguesas, com o objetivo de caracterizar a perceção dos líderes de empresas portuguesas em matérias de corrupção e fraude, à luz das novas tendências nestas temáticas. O estudo pode ser consultado na íntegra [aqui].
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