Numa reviravolta surpreendente, a organização de defesa da privacidade NOYB apresentou uma queixa contra a Comissão Europeia, alegando práticas de publicidade digital questionáveis.
O centro da disputa gira em torno do uso de microtargeting, uma técnica de publicidade focada, pela Comissão no Twitter, ligada a uma proposta legislativa para combater o abuso sexual infantil.
Uso controverso de dados sensíveis
A NOYB acusa a Comissão de empregar dados sensíveis, especificamente opiniões políticas e crenças religiosas dos utilizadores, para orientar os seus anúncios. Estas categorias de dados, consideradas “dados de categoria especial” pelo Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da UE, exigem consentimento explícito dos utilizadores antes do seu processamento, levantando sérias questões sobre a legalidade das ações da Comissão.
A situação pode intensificar-se ainda mais, com a NOYB considerando estender a queixa ao Twitter por fornecer as ferramentas que permitiram esta prática de microtargeting.
Isto poderia abrir um novo capítulo no debate sobre a responsabilidade das plataformas de redes sociais na gestão de dados dos utilizadores.
Implicações legais e éticas
As violações do GDPR podem levar a pesadas multas, até 4% do volume de negócios global anual, enquanto as violações do Digital Services Act (DSA) podem chegar a 6%. Curiosamente, a Comissão Europeia, agora acusada de quebrar estas regras, é a mesma entidade responsável por supervisionar a conformidade do Twitter com o DSA.
Face às acusações, a Comissão Europeia admitiu a abertura de uma investigação interna para averiguar se alguma regra foi violada na campanha de microtargeting no Twitter.
Esta decisão destaca a crescente preocupação com a ética e a privacidade na publicidade digital, especialmente quando conduzida por instituições governamentais.
O impacto mais amplo
Esta acusação contra a Comissão Europeia não é apenas um caso isolado; reflete uma preocupação mais ampla com a privacidade e a ética na publicidade digital. O caso sublinha a importância de garantir que as práticas de publicidade, especialmente aquelas envolvendo dados sensíveis, estejam em conformidade com as leis de proteção de dados.
As repercussões deste caso poderão redefinir a maneira como as instituições governamentais utilizam os dados pessoais em campanhas publicitárias e poderão ter implicações significativas para a política de privacidade na UE.
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