Desde que a Tesla surgiu no mercado e assumiu uma posição de liderança no setor dos automóveis elétricos, que aparece de forma recorrente a ideia de que um novo modelo de outro construtor poderá ser um “Tesla killer” – ou seja, um matador de Teslas, algo que é tão melhor/mais barato que irá deitar por terra a empresa que Elon Musk tomou de assalto e assumiu como sua.
Sobre esta ideia dos “Tesla killers” já escrevi há anos no meu blogue, pelo que não me irei alongar aqui. Resolvi voltar ao tema porque acho que andamos a ver isto ao contrário: o que temos neste momento são “killer Teslas”: os modelos 3 e Y da marca norte-americana basicamente obliteram todos os outros modelos de marcas concorrentes que tentam singrar nos mesmos segmentos.
Exagero meu? Não me parece. O que me parece é que a concorrência europeia (uso o termo “concorrência” de forma algo generosa…) não está a ver o mesmo filme que eu e que milhares de consumidores à procura do seu próximo veículo elétrico.
Comecemos por um dos mais recentes “concorrentes” da Tesla a chegar ao mercado: a Renault e o seu Megane e-Tech. Vou ignorar o absurdo que é este carro ter chegado ao mercado 10 anos (!) depois do Zoe; pelo menos é baseado numa nova plataforma 100% elétrica (coisa que o Zoe não era), partilhada com a Nissan e a Mitsubishi.
Para o meu gosto pessoal, o carro é lindo e tem proporções perfeitas para uma utilização cidade/familiar. Ou seja, tem tudo para ser um excelente “único carro”… até que vamos ver quanto custa. E custa muito dinheiro. Tipo, mesmo muito. Quanto muito? Bem, a versão mais barata, com uma bateria de apenas 40 kW/h e 130 CV de potência (especificações inferiores às dos Zoe!), que nem sequer permite carregamento AC trifásico, custa a módica quantia de 38.350€ (este e outros preços citados aqui foram retirados dos websites oficiais das marcas em 6/9/2023). Que é como quem diz, apenas 1.600€ abaixo de um Tesla Model 3, com muito mais tecnologia, autonomia, potência e velocidade de ponta.
Se optarmos por um Megane e-Tech com autonomia, potência e velocidade de carregamento mais próxima do Tesla, vamos ter de desembolsar entre 44.850€ e 47.850€, consoante as versões. É preciso gostar muito do Renault e odiar muito a Tesla (ou andarmos distraídos) para não optar pelo Model 3.
Mais exemplos? Que tal um VW ID.3, que ainda assim se pode considerar como sendo de um segmento abaixo do Tesla Model 3? Nem vou passar as versões em revista: o mais “barato” custa 42.456€. Nem tenho palavras… O modelo seguinte, o ID.4, que compete com o Tesla Model Y, ainda consegue ser um bocadinho competitivo (o mais barato custa 45.346€ contra 45.490€ do Model Y)… mas só se ignorarmos as diferenças entre a tecnologia, a potência e a autonomia.
A história repete-se nas comparações com praticamente todas as marcas que competem com a Tesla contra o Model 3 e o Model Y, os best-sellers da marca.
É por isso que não posso deixar de sorrir quando vejo escritas coisas sobre o “perigo” da entrada dos construtores chineses na Europa, e como eles podem provocar uma disrupção tal que pode levar à falência das marcas europeias. É que essa disrupção já existe, através da Tesla, e se os construtores alemães, franceses, italianos e suecos não conseguem competir com a Tesla, não estou a ver como irão competir com os modelos que aí vêm, provenientes do extremo oriente, que prometem juntar o preço (mais) agressivo à tecnologia.
Mas de uma coisa tenho a certeza: aproximam-se tempos interessantes para o mercado automóvel.
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