Os leitores mais atentos do TecheNet já sabem que a Fairphone apresentou esta semana o Fairphone 5, uma atualização a todos os níveis significativa do Fairphone 4 e que passa a ser, se tomarmos como métrica mais importante a defesa do planeta, o novo melhor smartphone do mundo.
A empresa neerlandesa continua a não nos trazer aqui um verdadeiro topo-de-gama, em termos de desempenho puro, mas sim o seu topo-de-gama. São 700€ de smartphone que muitos olharão de lado e pensarão “por esse preço, compro muito melhor”. Mas, como já opinei anteriormente, isso depende do que considerarmos “melhor”…
Ainda assim, além do novo processador (já lá iremos), o Fairphone 5 traz alguns upgrades significativos face ao Fairphone 4 (que continua a ser vendido e custa 530€), nomeadamente o ecrã OLED – o primeiro OLED num Fairphone – câmaras frontais duplas de 50 MP com sensores Sony IMX 858 e certificação IP55 (IP54 no caso do FP4).
Mas aquilo que quero salientar é a garantia (5 anos) e, sobretudo, o suporte sem precedentes que a Fairphone propõe para este modelo: nada menos do que 5 (!) atualizações de Android após o Android 13 com que vem equipado. Se juntarmos a isto as atualizações de segurança, a marca aponta para um ciclo de suporte entre os 8 e os 10 anos, algo nunca visto na indústria.
Isto é realmente impressionante e, apesar de vir na sequência de um suporte tradicionalmente muito bom por parte da marca, não pode deixar de nos impressionar e, sobretudo, deixa uma questão no ar: como? A pergunta é tanto mais relevante quanto a Qualcomm, que fornece o SoC desta máquina, tem um suporte limitado aos seus chips. Tipicamente, um SoC Snapdragon tem uma garantia de suporte de cerca de 3 updates de Android; mais do que isso, a marca que os usa está por sua conta – e a Fairphone é uma empresa relativamente pequena e com poucos recursos.
A opção “industrial”
O que a Fairphone fez para dar a volta a este problema foi mergulhar bem fundo no catálogo de soluções da Qualcomm e selecionar um SoC da sua gama “industrial”, criada sobretudo a pensar em dispositivos IoT. Neste caso, com a referência QCM6490, equivalente em desempenho a um Snapdragon 778G+.
Na página do produto, a própria Qualcomm salienta precisamente o suporte prolongado, como argumento comercial: “suporte a longo prazo para atualizações do sistema operativo Android, Linux, Ubuntu, Windows 11 IoT Enterprise, atualizações de segurança e hardware de nível empresarial”.
O tipo de aplicações de que falamos incluem transportes & logística, armazéns inteligentes, retalho, produção industrial, saúde e comércio eletrónico, entre outros. Ou seja, tudo setores onde o importante é a fiabilidade e estabilidade da plataforma a longo prazo e não a troca rápida pelo mais recente e “melhor” chip.
Este SoC é um pouco menos integrado do que a gama Snapdragon, uma vez que o suporte para conectividade sem fios (Bluetooth e Wi-Fi) não vem incluída; requer um módulo adicional, neste caso o FastConnect™ 6900, que pertence também à gama de aplicações industriais do catálogo da Qualcomm.
Mas, dada a importância para a Fairphone da sustentabilidade e longevidade dos seus produtos, este é um compromisso que foi certamente fácil de assumir, até porque, para o utilizador, o que importa é a funcionalidade oferecida, e não como é que ela é implementada.
Para quem tiver curiosidade sobre a importância do trabalho da Fairphone em prol de uma maior sustentabilidade no setor dos smartphones, vale a pena ver este curto documentário de 10 minutos, sugestivamente intitulado «The Dark Side of the Smartphone Industry»:
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