A ciência não se diferencia de outros casos sociais quando o assunto é desigualdade de gênero. As mulheres são excluídas de diversos âmbitos e profissões que são consideradas “masculinas”. Na ciência, por exemplo, elas frequentemente encontram dificuldades para adentrar nesse contexto, uma vez que estão vulneráveis a xingamentos, assédios e preconceitos.
Como pesquisadoras, as mulheres sofrem o que é chamado de “efeito tesoura”, isto é, o corte de grande parte do gênero feminino enquanto a carreira acadêmica progride. Quanto mais alto o cargo acadêmico, menor o número de mulheres. Isso ocorre devido a diversas desvantagens que elas sofrem em razão da misoginia presente no meio social: as mulheres foram criadas para servir ao lar e à família, e, quando tentam ultrapassar esse limite imposto, são penalizadas.
Essa restrição das mulheres à esfera doméstica implica em uma consequente diminuição do campo de oportunidades que é atribuído a elas, visto que não são incentivadas a estudar, mas, sim, a cuidar dos filhos, da casa e do marido. Além disso, há uma forte influência da indústria da beleza, que incita a preocupação excessiva com a estética.
Isso tudo com o objetivo de afastar as mulheres do pensamento crítico: afinal, com tantas preocupações, não sobra tempo nem disposição para desenvolver linhas de pesquisas e raciocínios profundos. Fato que colabora para a manutenção social do machismo, visto que mulheres que não pensam não manifestam, não questionam a desigualdade de gênero e não correm atrás de seus direitos.
E, quando conseguem subir na carreira, são cortadas de diversas formas. Segundo os estudos feitos pela Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, não são raros os casos em que as alunas de mestrado e doutorado abandonam os estudos, devido ao assédio que sofrem dentro da universidade. Isso porque, muitos professores – em sua maioria, homens – se aproveitam de sua posição privilegiada de poder para importunar as estudantes.
Além disso, muitas das contribuições das mulheres são desconsideradas. Isto é, grande parte dos avanços científicos possibilitados pelo trabalho feminino, utilizados até hoje nas faculdades de odontologia e medicina, não recebe o devido crédito e reconhecimento.
As mulheres também lidam com a discriminação de áreas de pesquisa: elas tendem a ser sub-representadas em várias disciplinas, como física, química e matemática, que são as matérias estereotipadas como mais difíceis e intelectuais, e – consequentemente – incentivadas apenas para homens. Para exemplificar, vamos citar algumas áreas onde há uma discrepância ainda mais evidente entre a participação de homens e mulheres:
Ciência agrária
Apesar de já ter alcançado a paridade de gênero no último estágio da pós-graduação, com 51% de doutoras, apenas 25% dos docentes permanentes nas universidades do país são mulheres.
Zootecnia
Em zootecnia e recursos pesqueiros, o fenômeno se repete: 52% dos doutores titulados são do sexo feminino, mas apenas 36% do corpo docente é de professoras. Isso significa que as mulheres formadas nessas áreas não estão chegando ao topo da carreira.
Ciência da computação
Uma das áreas mais estigmatizadas em relação à “maior aptidão masculina”, a ciência da computação abriga uma das menores proporções de mulheres tanto no corpo docente (cerca de 20%) quanto entre os doutores (apenas 18%).
Arquitetura e urbanismo
Também é importante pontuar alguns avanços que já tivemos; no curso de arquitetura e urbanismo, por exemplo, há uma equidade bem maior que a dos cursos já citados: 53% de doutoras e 51% de professoras permanentes.
História
Outro curso com grande paridade: 47% de doutoras e 45% de professoras permanentes.
Mas, ainda assim, no geral, há muito o que evoluir tanto dentro da universidade, no que diz respeito ao assédio e às questões de preconceito, quanto no estrutural da sociedade, que permeia e interfere na autoestima intelectual das mulheres. E, para mudar toda essa estrutura desfavorável para a ascensão das mulheres, será necessário muita luta e esforço.
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