No final de 2022, no meu blog, escrevi um artigo em que explicava porque é que eu, que adoro automóveis elétricos, não consideraria comprar um Tesla. No entanto, essas são as minhas razões, e apenas minhas – e não me impedem de, ao mesmo tempo, compreender que há excelentes razões para alguém optar por um Tesla sobre qualquer outra marca.
A verdade é que “Tesla” é, hoje, sinónimo de EV. Não vou colocar isto como “razão”, mas até acho que, para muita gente, é. Já escrevi há anos porque é que penso que a Tesla está à frente da concorrência e que esta se arrisca à irrelevância se não acompanhar a revolução elétrica.
Hoje, tenho a certeza de que a Tesla é a primeira marca de que alguém se lembra quando pensa em comprar um veículo elétrico. A Tesla até pode não fazer publicidade nem ter um departamento interno de relações públicas, mas as declarações constantes do seu CEO, Elon Musk, garantem que ninguém lhe fica indiferente. Para muita gente, “Tesla” é sinónimo de Veículo Elétrico e, parecendo que não, o mindshare é muito importante.
Mas vamos às seis razões para comprar um Tesla – ainda que eu admita que, algumas delas, possam ser precisamente as que algumas pessoas têm para não comprar!
1. A plataforma
O Model S foi o primeiro EV do mercado a ser produzido a partir de uma plataforma pensada de raiz (designada “skateboard”, em que as baterias são colocadas na base do veículo), por oposição a fabricantes como a Renault e a Nissan que ainda hoje comercializam VEs que são derivados de veículos com motores a combustão. Esta abordagem tem não apenas vantagens em termos de comportamento em estrada (“handling”), como de espaço interior. Mais de uma década depois do primeiro Model S começar a ser vendido, o resto da indústria (finalmente!) está a fazer o mesmo… num momento em que a Tesla já está a evoluir para uma solução superior, usando as baterias como elementos estruturais do veículo.
2. O software
Os Teslas não são carros elétricos; são sofisticados computadores com rodas. Não sou eu que digo, é o próprio Elon Musk, mas eu concordo. Há quem use esse facto como algo pejorativo, mas eu não embarco na ideia. Pelo contrário: é exatamente esta abordagem “tech-first” da marca que está na raiz do seu sucesso. Desde o primeiro momento (melhor dizendo, do segundo momento, que foi o Model S) que a Tesla entendeu a importância do software e o mais incrível é que o resto da indústria levou uma década a compreender a mesma coisa e alguns ainda não acertaram o passo. Esta abordagem trouxe também consigo a possibilidade de atualizações do software “over the air” (OTA) – que permitem oferecer novas funcionalidades ao longo da vida do veículo – coisa que, passada uma década, ainda nem todos os fabricantes conseguem.
3. A condução autónoma
A famosa funcionalidade “Full Self Driving” (FSD) pode estar ainda a algum tempo de oferecer capacidade de condução 100% autónoma, mas anda lá perto. E, como tudo o que tem a ver com a Tesla, mesmo não estando ainda pronta, é continuamente melhorada. Este é mais um aspeto onde a marca até pode ser acusada de ser demasiado otimista, mas penso que ninguém duvida que, uma vez mais, está neste aspeto anos à frente da concorrência. Se esta é uma funcionalidade que lhe interessa, a Tesla é a marca que lhe consegue oferecer a melhor experiência de condução “mãos livres” já hoje, mesmo que o software não tenha saído do seu estado “beta” no final de 2022, como prometido. Mas uma coisa é garantida: a Tesla continuará a desenvolver o software FSD e, em alguns casos, o hardware, até que a funcionalidade esteja totalmente pronta.
4. A autonomia e a rede de carregamento
Já vimos nos pontos anteriores como a Tesla tem sido pioneira em inúmeras tecnologias que o resto da indústria demorou (e a custo…) uma década ou mais a acompanhar. Mas se eu tivesse que escolher o principal “golpe de génio” seria certamente a decisão precoce de criar uma rede própria de carregamento. Este não é (ainda) um grande argumento no que diz respeito a Portugal, mas os poucos Superchargers que cá existem estão em pontos estratégicos e, para quem viaja com frequência para fora do país, a rede no resto da Europa é certamente um argumento importante.
No entanto, mesmo sem a rede de Superchargers, a Tesla tem dos modelos que mais autonomia oferecem (graças a baterias de dimensões generosas mas também a uma operação extremamente eficiente), um tema a que voltarei na sexta e derradeira “razão”.
5. A polivalência
Um ponto que muitas vezes é descurado quando pensamos num Tesla é que 100% dos modelos propostos pela marca são não apenas automóveis “familiares” (uns mais do que outros, claro) mas também, e simultaneamente, desportivos. O marketing da marca não os propõe como tal, mas olhando para as especificações a que tipicamente damos atenção num automóvel desportivo, designadamente aceleração, velocidade máxima e o facto de serem todos de propulsão traseira ou às 4 rodas (e não de tração dianteira como muitos EVs do mercado), estes são carros que, se tivessem um motor de combustão interna, não hesitaríamos em classificar como desportivos. E isto é relevante para o meu argumento final…
6. O preço
Muito se fala do preço dos Tesla. E sim, (ainda) não é possível arranjar um que custe menos de 40 mil euros, quando Elon Musk tinha prometido um Model 3 a 35 mil dólares (que chegou a estar disponível para venda no website da marca nos EUA). Mas não acho que os Tesla sejam assim tão caros, e por duas razões: a primeira tem a ver com a polivalência que referi acima; quando comparamos o preço de um Model 3 com o BMW Serie 3 (ICE), por exemplo, não devemos fazê-lo indo buscar o BMW “de entrada”, mas um que ofereça desempenho semelhante. E, aí, provavelmente já estamos a falar de algo que provavelmente custará o dobro (ou mais!) do que o Model 3.
A segunda razão tem a ver com a autonomia. Ao contrário da perceção da maioria das pessoas, se considerarmos a autonomia oferecida (provavelmente o parâmetro mais importante para os potenciais compradores de um EV), os Tesla não são mais caros do que veículos de preço semelhante. Um argumento final sobre o preço dos Tesla prende-se com o seu elevado valor de retoma. O reconhecimento e valor da marca Tesla conjugado com a grande autonomia e eficiência dos seus veículos (e, estou convencido, com o argumento dos Superchargers), garante um valor elevado dos Tesla no momento da sua venda – mesmo com elevadas quilometragens. De resto, uma vista de olhos pelo mercado de usados, permite confirmar isso mesmo, sem grandes discussões.
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