Uma pedra castanha-avermelhada escura, encontrada há alguns anos no deserto do Saara, em Marrocos, está a intrigar a comunidade científica. De acordo com investigadores, este meteorito, pois é disso que se trata, parece ser uma rocha terrestre que foi lançada para o espaço e permaneceu lá por milhares de anos antes de regressar ao nosso planeta, surpreendentemente intacta.
A confirmar-se a investigação agora apresentada, este será o primeiro meteorito da Terra a efetuar uma jornada em boomerang para o espaço. A descoberta foi apresentada durante uma conferência internacional de geoquímica na semana passada, mas ainda não foi publicada em revistas especializadas.
Elementos cósmicos no coração da questão
Os cientistas realizaram testes de diagnóstico na pedra e descobriram que possui a mesma composição química das rochas vulcânicas da Terra. Contudo, alguns elementos revelaram uma peculiaridade: transformaram-se em formas mais leves, indicando uma interação com raios cósmicos energéticos no espaço. Esse fenómeno raro forneceu uma das principais evidências de que a rocha deixou a Terra, explicam os geólogos.
As concentrações dos isótopos são demasiado elevadas para serem explicadas por processos terrestres, levantando fortes suspeitas de que a rocha foi impulsionada para o espaço por um evento impactante, possivelmente uma colisão com um asteroide, cerca de 10.000 anos atrás.
O meteorito boomerang
A teoria do “meteorito boomerang” implica que a pedra, oficialmente designada como Northwest Africa 13188 (NWA 13188), teria sido catapultada para além da atmosfera da Terra. Em órbita no espaço sideral, ficou vulnerável aos raios cósmicos galácticos, que deixaram as suas marcas isotópicas distintas. Os cientistas estimam que esteve a viajar no cosmos durante cerca de 2.000 a algumas dezenas de milhares de anos antes de regressar à atmosfera terrestre.
Um enigma para resolver
Embora a equipa de investigação liderada pelo geofísico Jérôme Gattacceca suspeite fortemente de se estar perante um meteorito boomerang, outros especialistas expressam cautela. Ludovic Ferrière, curador da coleção de rochas do Museu de História Natural de Viena, afirma à Space que “é uma rocha interessante que mereceria mais investigações antes de fazer afirmações extraordinárias”.
Uma das principais preocupações é a falta de uma grande cratera de impacto na Terra compatível com a cronologia proposta para a chegada do meteorito. Os geólogos afirmam que uma cratera com cerca de 20 km de largura teria de se formar caso um asteroide com 1 km de largura colidisse com a Terra há apenas 10.000 anos. Até agora, nenhuma das 50 maiores crateras de impacto conhecidas possui uma idade tão recente.
A busca pelo local de origem
O mistério em torno do NWA 13188 também abrange a sua origem precisa. Embora o meteorito tenha sido comprado em 2018 por Albert Jambon, professor francês reformado da Universidade Sorbonne de Paris, a sua aquisição junto de caçadores e comerciantes de meteoritos marroquinos torna incerta a localização exata onde a pedra reentrou na Terra.
A equipa de Gattacceca continua a analisar a rocha com afinco, procurando determinar a sua idade e desvendar outros mistérios sobre a sua trajetória cósmica.
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