Uma misteriosa espécie humana arcaica, conhecida como Homo naledi, já fazia enterros e gravuras 100 mil anos antes dos humanos.
A equipa que encontrou o local dos enterros, na África do Sul, ficou surpreendida com as suas práticas complexas relacionadas com a morte. Numa descoberta pioneira, os cientistas encontraram provas de que o Homo naledi não apenas enterrava seus mortos, mas também gravava símbolos nas paredes das cavernas.
Uma descoberta disruptiva
Estes comportamentos, anteriormente associados apenas ao Homo sapiens e aos Neandertais, desafiam a compreensão atual da evolução humana. As revelações, descritas em três estudos publicados na revista científica eLife, fornecem novos insights sobre as habilidades cognitivas e culturais dessa espécie extinta.
As escavações realizadas no sistema de cavernas Rising Star, na África do Sul, revelaram os fósseis do Homo naledi. Os restos mortais de adultos e crianças dessa espécie foram encontrados dispostos em posição fetal dentro das cavidades das grutas, cobertos com terra. Esses enterros, são mais antigos 100 mil anos do que quaisquer outros enterros conhecidos do Homo sapiens. Essa descoberta desafia a ideia de que apenas os humanos modernos eram capazes de realizar rituais funerários complexos.
Sepulturas do Homo naledi anteriores aos enterros realizados pelos humanos modernos.
Durante a identificação dos enterros, os cientistas também encontraram uma série de símbolos gravados nas paredes das cavernas. Esses símbolos, que têm entre 241.000 e 335.000 anos, incluem linhas paralelas entrecruzadas, como um hashtag, e outras formas geométricas. Descobertas semelhantes noutras cavernas foram atribuídas aos primeiros Homo sapiens, há 80.000 anos, e aos Neandertais, há 60.000 anos. Os pesquisadores planeiam realizar testes adicionais para obter uma datação mais precisa dessas gravações.
“O que podemos dizer é que são desenhos geométricos feitos intencionalmente que tinham significado para os naledi”, afirmou Agustín Fuentes, explorador da National Geographic e membro da equipa. “Isso significa que gastaram muito tempo e esforço e arriscaram a vida para gravar estas coisas nos locais onde enterravam os corpos.”
Símbolos gravados nas paredes indicam atividades de criação de significado
“Estas descobertas recentes sugerem enterros intencionais, a utilização de símbolos e atividades de criação de significado pelo Homo naledi. Parece uma conclusão inevitável que, em conjunto, indicam que esta espécie de parentes humanos antigos, de cérebro pequeno, realizava práticas complexas relacionadas com a morte”, afirmou Lee Berger, autor principal de dois dos estudos e coautor do terceiro, em comunicado.
“Isso significa que não só os humanos não são únicos no desenvolvimento de práticas simbólicas, como também podem não ter inventado esses comportamentos,” conclui o paleoantropólogo.
Explorando o sistema de cavernas Rising Star
A descoberta dos fósseis do Homo naledi foi realizada no sistema de cavernas Rising Star, na África do Sul, durante escavações que começaram em 2013. Estas cavernas fazem parte do chamado Berço da Humanidade, um Património Mundial da UNESCO, onde fósseis de várias espécies ancestrais humanas foram encontrados.
Os cientistas enfrentaram inúmeras dificuldades durante a exploração das cavernas, que são semelhantes a um labirinto. As câmaras das cavernas possuem quedas íngremes mortais e passagens estreitas que exigem que os pesquisadores rastejem de barriga para baixo.
O paleoantropólogo Lee Berger, líder da equipa de pesquisa e explorador residente da National Geographic, descreveu a experiência como terrível e maravilhosa. Ele e sua equipa mapearam mais de 4 quilômetros das cavernas até o momento, revelando o ambiente complexo e desafiador onde o Homo naledi viveu.
Explorar o sistema de cavernas Rising Star, localizado na África do Sul, é uma tarefa desafiadora e perigosa. Com mais de 4 quilômetros mapeados até o momento, o complexo sistema de cavernas apresenta quedas íngremes e passagens estreitas.
Para investigar as câmaras subterrâneas, os pesquisadores precisaram rastejar por túneis estreitos e enfrentar condições extremas. O paleoantropólogo Lee Berger, líder da equipe de pesquisa, teve que perder 25 quilos para conseguir entrar nas cavernas.
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