Num artigo anterior falei do hidrogénio e de como ele não é o futuro dos automóveis elétricos. O que podemos esperar então da evolução dos automóveis elétricos, olhando para as tendências do mercado e descartando ideias que não funcionam ou cuja promessa está demasiado distante? É sobre isso que vos quero hoje falar.
Fazer futurologia sobre uma indústria em mutação rápida é um exercício difícil. O que não me impede de tentar, claro! O setor automóvel tem mais de uma centena de anos de idade; em comparação, a indústria automóvel baseada em EVs é uma jovem com pouco mais de uma década.
É verdade que, em rigor, há cerca de 100 anos os automóveis elétricos chegaram a ser mais populares do que os ICE. Mas a tecnologia era baseada em baterias de ácido e chumbo (como as baterias de 12 volts dos carros atuais) e rapidamente foram destronados pelos veículos a combustão, sobretudo depois da invenção do motor de arranque elétrico.
A era moderna dos EVs começou em 2010 com o Nissan Leaf e acelerou em 2012 com o lançamento do Tesla Model S. O resto é história. Desde então, que os principais fabricantes – uns mais do que outros… – têm redobrado esforços para realizar a transição dos carros com motor a combustão (ICE) para os elétricos.
Aqui abaixo deixo seis previsões para o futuro próximo do setor automóvel. Apesar de nenhuma delas ser uma previsão arriscada, espero que este artigo “envelheça” graciosamente!
Automóveis elétricos: 6 previsões para o futuro
- Os EVs vão continuar a descer de preço…
Esta é uma previsão “segura”. O principal componente responsável pelo preço de um EV é a bateria, e as baterias têm vindo a baixar de preço rapidamente ao longo dos últimos anos. No espaço de uma década, o preço por kW/h baixou 89%! Isto tem dado margem a que os principais fabricantes baixem o preço dos seus veículos, especialmente forçados pelas recentes baixas de preço da Tesla.
- … e os fabricantes vão lançar EVs mais baratos
Mais importante do que vermos EVs de 50.000 euros a baixar de preço, mas a continuarem fora do alcance da maioria dos consumidores, é assistirmos à chegada de novos EVs criados de raiz para serem mais baratos. Isto irá acontecer não apenas com fabricantes ocidentais, da General Motors à VW, mas, e sobretudo, com fabricantes asiáticos, que irão tirar partido do abandono das principais marcas das gamas de entrada.
- As baterias de iões de lítio irão continuar a evoluir
As redes sociais fervilham de notícias sobre baterias de estado sólido, super-condensadores ou “baterias que duram 1.000 km”. Mas tudo isso são tecnologias que ainda levarão anos a chegar ao mercado. Entretanto, as baterias de iões de lítio irão continuar a evoluir, no sentido de serem mais baratas, mais densas (maior capacidade/volume), com maior longevidade e de carregamento mais rápido.
- Novas químicas irão substituir o cobalto – e até o lítio
Mais perto do que imaginamos estão tecnologias que irão alterar a química das baterias no sentido de as tornarem mais sustentáveis e mais baratas. É o caso das baterias LFP, que usam fosfato de ferro em substituição do cobalto, e que já estão a ser usadas pela Tesla em muitos dos seus veículos, especialmente os produzidos na China.
Uma outra química interessante, e que está já a chegar ao mercado, é a das baterias de iões de sódio. Apesar destas baterias não serem tão energeticamente densas como as de lítio, são uma excelente solução para veículos citadinos, em que a autonomia não é tão crítica. Além disso, o sódio é um elemento muito mais barato e mil vezes mais abundante do que o lítio.
- Os automóveis híbridos e os automóveis elétricos “recarregáveis” vão desaparecer
Os automóveis híbridos modernos foram lançados há mais de 20 anos e foram o primeiro sinal de que a indústria iria entrar numa fase de mudança. Seguiram-se os híbridos recarregáveis (PHEV, or Plug-in Hybrid EV), que ainda hoje são populares… mas cujos dias estão contados, uma vez que continuam a depender de um motor de combustão interna e, como tal, serão oficialmente banidos na Europa a partir de 2035.
- A transição dos ICEs para os EVs irá acontecer antes de 2035
Não creio que seja preciso esperar por 2035 para assistirmos à transição efetiva dos veículos a combustão para os automóveis elétricos. À medida a que os mitos se vão desfazendo, que as pessoas vão percebendo os benefícios dos EVs face aos ICE e, claro, com o mercado a oferecer propostas mais tentadoras em termos de preços, a esmagadora maioria dos consumidores irá fazer a mudança ainda antes do prazo-limite estabelecido pela União Europeia.
E até podia ser mais rápido, se seguíssemos o exemplo de quem está bem mais à frente do que nós.
* António Eduardo Marques conduz diariamente um EV e é responsável pela página Mobilidade Elétrica no Facebook.
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