Na série de artigos sobre veículos elétricos (EVs) que tenho escrito aqui no TecheNet abordei alguns dos principais mitos sobre o tema, e de como é necessária uma mudança de mentalidade para podermos abandonar velhos hábitos e adotar novas rotinas.
No entanto, tudo isso é muito bonito, dirão muitos dos meus leitores, mas os EVs continuam caros como tudo. “São carros para ricos” – é algo que vejo frequentemente escrito nos comentários da minha página no Facebook, mas também em muitas outras sobre mobilidade elétrica.
Estes comentários têm razão de ser quando olhamos para as gamas médias e baixas do mercado. Os principais construtores (Toyota, grupo VW, grupo Stellantis, até mesmo a Tesla…) não criaram – ainda – EVs com preços acessíveis. Embora eu não tenha dúvidas de que esses EVs acabarão por chegar ao mercado, restando saber se serão criados pelos atuais protagonistas do setor automóvel ou por novas marcas mais ágeis, provenientes do extremo oriente.
No entanto, os EVs já oferecem paridade de preços e, por vezes, uma melhor relação preço / qualidade / performance, quando olhamos para as gamas superiores. Quem está no mercado para comprar um SUV diesel de uma marca alemã tem certamente dinheiro para olhar para propostas 100% elétricas. Mas sobre esse assunto já escrevi anteriormente noutro local, pelo que se quiserem discutir o tema comigo, podem deixar comentários aqui.
Não vou discutir a dificuldade em comprar um EV novo, sobretudo num contexto de juros de empréstimos elevados. No entanto, e dependendo do cenário, vale a pena analisar o chamado TCO, ou seja, o custo total da propriedade (TCO = Total Cost of Ownership). Nele devemos contabilizar quanto é que o veículo nos irá custar no final do período em que tencionamos mantê-lo. E isso irá depender de vários fatores.
Por exemplo, quem more num subúrbio de Lisboa e use o seu EV para se descolar para o trabalho, pode poupar milhares de euros por ano só em estacionamento, porque – pelo menos por enquanto – o estacionamento de EVs na capital (e noutras grandes cidades portuguesas) é gratuito (em rigor, em Lisboa custa 12 euros por ano).
Se o EV for comprado por uma empresa para fazer parte da remuneração de um dos seus quadros, em vez de um BMW ou de um Mercedes, um EV pode custar muito menos, porque o IVA é 100% dedutível em veículos com um PVP até 62.500€. Além disso, se a empresa também assumir os custos com combustível, irá poupar muito mais caso equipe a sua garagem com carregadores elétricos. Melhor ainda, os EVs não pagam tributação autónoma.
Outro cenário em que o TCO pode e deve ser contabilizado é o dos taxistas e motoristas de TVDEs: quanto mais quilómetros andam, mais poupam, e a poupança em combustíveis pode ser de tal forma significativa que, só por si, paga a prestação do veículo elétrico!
Sobre as opções a particulares que procuram apenas um EV barato, falarei no próximo artigo. Mas uma coisa é certa: o futuro é elétrico e os EVs mais acessíveis acabarão por chegar ao mercado.
* António Eduardo Marques conduz diariamente um EV e é responsável pela página Mobilidade Elétrica no Facebook.
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