Vamos começar pelo princípio: o que é “o melhor smartphone”? O mais rápido? O mais bonito? O mais caro? O que dá mais status? Tudo isso junto? A resposta vai certamente ser diferente consoante a pessoa a quem perguntarmos.
Quando, no final de 2022, o meu Samsung Galaxy S10 Lite, que eu pensava manter durante mais um ano (tem atualizações de segurança garantidas até ao final de 2023 e eu gosto de trocar de smartphone mesmo só quando ele deixa de ter atualizações) se avariou, fiquei perante o dilema de saber o que comprar.
O meu perfil de utilização é a de um “business user”: uso muito o email, dou relevância à autonomia, à capacidade de armazenamento (gosto de usar cartões microSD), não muita à fotografia (continuo fiel à minha Sony Alpha 7 MkII) e não uso o smartphone para jogar. Mas sou também um utilizador que dá importância a outros aspetos, como é o caso do impacto ambiental do meu consumo; uma das specs para onde passei a olhar com outros olhos é a da quantidade de atualizações (OS e de segurança) que determinada marca oferece, porque dessa métrica depende em grande parte a longevidade do produto.
E sim, sei que um smartphone a menos não vai salvar o planeta, mas a verdade é que um smartphone a mais também não constitui uma contribuição positiva.
Continuando com o meu perfil em termos de comprador de eletrónica de consumo, sou alguém que não gosta de pagar mais do que o que é razoável, seja por um smartphone ou por um computador; nunca me passaria pela cabeça comprar um topo-de-gama de qualquer marca mas, ao mesmo tempo, não me importo de pagar um pouco mais por algo que sei que irá durar bastante tempo. É nessa lógica que o portátil em que escrevo estas linhas é um Thinkpad T480S que me custou cerca de 1.500€ há 4 anos e que me deverá durar muitos mais.
Cruzando as minhas necessidades com o budget máximo que estava disposto a gastar e os meus requisitos para um novo smartphone, identifiquei aquele que acho que é neste momento o melhor smartphone do mundo (para mim, evidentemente) e comprei-o mesmo a tempo de ainda beneficiar de uma garantia de 5 anos. E o que é que eu comprei? Um Fairphone 4 5G.
O melhor smartphone do mundo?
Mas já vos estou a ouvir: o que raio é um Fairphone? E, por parte de quem já sabe, “como raio é que um smartphone ‘midrange’ [usa um Qualcomm Snapdragon 750G] que custa mais de 500 euros pode ser considerado como o melhor do mundo… Ou sequer um bom negócio?
Lá está, tudo depende do conceito de “melhor” de cada um de nós. A Fairphone é uma empresa neerlandesa fundada há 10 anos com o objetivo de chamar a atenção da indústria de eletrónica de consumo e, sobretudo, do setor específico dos smartphones, para a necessidade de produzir de forma mais ética.
E o que é significa “mais ética”? Significa sobretudo uma cadeia de fornecimento que empregue pessoas a quem são pagos salários dignos e que possibilite encontrar componentes e matérias-primas que sejam obtidas com um impacto mínimo para o ambiente e que não sejam provenientes de zonas de conflito.
A parte da campanha em si teve, inicialmente, um reduzido impacto nas práticas da indústria como um todo, pelo que a empresa decidiu meter mãos à obra e criar o seu próprio smartphone, desta forma provando que aquilo pelo qual batalhava era efetivamente possível. E, se fosse possível por parte de uma pequena empresa, certamente seria-o ainda mais através de gigantes do setor.
Os primeiros esforços da Fairphone foram feitos a partir de equipamentos OEM mas, a partir do Fairphone 3, a empresa passou a produzir os seus próprios projetos. O Fairphone 4 5G, lançado no final de 2021, é o seu smartphone mais recente.
Compreendo que o Fairphone 4 não seja para toda a gente. Primeiro, porque não é assim tão barato (entre 579€ e 649€, consoante as versões); depois, porque por esse preço é possível comprar algo mais rápido, com melhores câmaras e, certamente, mais sexy.
Mas, para mim, este é mesmo o melhor smartphone do mundo. Não é só a preocupação da empresa que o produz com a maneira como ele é fabricado, mas também o próprio smartphone em si. A Fairphone oferece 5 anos de garantia e garante “pelo menos” outros tantos de atualizações de software (a título de exemplo, o Fairphone 2 recebeu 7 anos de atualizações!). Mas vai muito para além disso: o smartphone é modular e quase tudo o que pode avariar ou necessitar de ser substituído pode facilmente (e a preço acessível) ser adquirido na loja da Fairphone e instalado pelo utilizador.
A bateria está nas lonas? Compra-se outra. O ecrã partiu-se? No problem. É preciso trocar a porta USB? Nada mais fácil. E por aí adiante.
A verdade é esta: 10 anos depois do seu primeiro smartphone, a filosofia da Fairphone parece estar a fazer escola. Este ano, no MWC em Barcelona, a Nokia acaba de apresentar o G22, um smartphone cujo principal argumento é… a sua facilidade de reparação. E a Comunidade Europeia está a apertar o cerco aos fabricantes, exigindo-lhes produtos com uma maior capacidade de reparação do que os que atualmente se vendem.
A marca poderá não vender tantos smartphones do que outras marcas, até porque não é essa a sua intenção (no seu website, pode ler-se que “o smartphone mais sustentável é aquele já você já tem”), mas parece inegável que, finalmente, se sente o seu impacto.
Hoje, são cada vez mais os consumidores que procuram produtos com um menor impacto ambiental e que se preocupam com o ciclo de vida daquilo que adquirem. E também esse foi um problema para o qual a Fairphone encontrou uma solução.
Se isto não é o melhor smartphone do mundo, não sei o que será o melhor smartphone do mundo.
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