Stablecoins são ativos digitais (criptomoedas) que acompanham o valor de moedas fiduciárias ou outros ativos.
Ao longo dos últimos meses temos publicado vários artigos baseados na Binance Academy sempre com o cuidado de sermos didáticos e oferecer aos leitores do TecheNet informação útil – e pensando na gestão e minimização de riscos, bem como na importância da diversificação dos investimentos.
Ainda recentemente postámos um guia básico sobre gestão de riscos e uma série designada Trading de Criptomoedas para Iniciados. E em 2021 publicámos um artigo intitulado Como construir uma carteira criptográfica equilibrada.
Como as criptomoedas não se resumem ao bitcoin e ether, explicámos também anteriormente as chamadas altcoins e até as “meme coins”. Mas na verdade nunca abordámos em concreto as “stablecoins”. É sobre elas que iremos falar neste artigo.
Introdução
As criptomoedas não se resumem à volatilidade. As stablecoins são criptomoedas projetadas especificamente para manter um preço fixo. Numa indústria onde moedas e tokens podem sucumbir da noite para o dia, há uma enorme procura por moedas que combinem os benefícios da tecnologia blockchain com a capacidade de atrelamento a ativos mais estáveis. Para quem ainda não usa stablecoins para negociação ou investimento, vale a pena aprender mais sobre elas, bem como as suas vantagens e desvantagens.
O que é uma stablecoin?
Stablecoins são ativos digitais que acompanham o valor de moedas fiduciárias ou outros ativos. Por exemplo, podemos comprar tokens atrelados ao dólar, euro, iene, ouro ou petróleo. Uma stablecoin permite que o seu detentor consolide lucros e perdas e transfira valores a um preço estável em redes blockchain peer-to-peer.
Historicamente, o Bitcoin (BTC), Ether (ETH) e outras altcoins sempre foram consideravelmente voláteis. Embora isso ofereça muitas oportunidades para especulação, também traz algumas desvantagens, uma vez que a volatilidade dificulta o uso das criptomoedas para pagamentos quotidianos.
Por exemplo, um comerciante pode aceitar US$ 5 em BTC por um café, mas descobrir que o seu BTC vale 50% menos no dia seguinte. Para determinados negócios, isso dificulta o planeamento e a operação com criptomoedas.
Até aqui, para consolidar os lucros ou evitar a volatilidade, os investidores e traders de criptomoedas não tinham outra opção além de converter as suas criptomoedas novamente em moeda fiduciária; mas a criação das stablecoins forneceu uma solução simples para esses dois problemas. Hoje, podemos facilmente entrar e sair do mercado volátil das criptomoedas, usando stablecoins como BUSD ou USDC.
Para criar uma moeda cujo valor acompanha o preço ou valor de outro ativo, é necessário um mecanismo designado de “atrelamento” (pegging). Existem várias maneiras de fazer isso e a maioria depende de outro ativo atuando como garantia. Alguns métodos provaram ser mais eficientes do que outros, mas ainda não existe um mecanismo de atrelamento 100% garantido.
Eis os principais tipos de stablecoins:
- Stablecoins atreladas a moedas fiduciárias
Uma stablecoin atrelada a uma moeda fiduciária (“fiat-backed”) mantém uma reserva da respetiva moeda, como USD, EUR ou GBP. Por exemplo, cada BUSD existente está atrelado a um dólar americano (USD) em reserva, mantido como garantia. Os utilizadores podem converter moeda fiduciária em stablecoin e vice-versa, na proporção do seu atrelamento. Se a relação entre os preços do token e da moeda fiduciária subjacente sofrer um desvio, os traders de arbitragem rapidamente farão com que o valor de atrelamento definido seja reestabelecido.
Vamos supor que o BUSD esteja a ser negociado por mais de um dólar. Os traders de arbitragem convertem dólares (USD) em BUSD e vendem-nos, obtendo lucros. Isso aumenta a oferta de venda do BUSD e reduz o preço para um dólar novamente. Se o BUSD for negociado abaixo de um dólar, os traders compram BUSD e o convertem para USD. Com isso, a procura por BUSD cresce e o seu preço sobe novamente para um dólar.
- Stablecoins atreladas a criptomoedas (Crypto-backed)
As stablecoins atreladas a criptomoedas funcionam de maneira semelhante às stablecoins atreladas a moedas fiduciárias. No entanto, em vez de usar dólares ou outra moeda como reserva, são criptomoedas que atuam como garantia. Como o mercado de criptomoedas é altamente volátil, as stablecoins atreladas a criptomoedas geralmente têm as suas reservas sobrecolateralizadas, como medida de proteção contra as oscilações de preços.
As stablecoins atreladas a criptomoedas usam contratos inteligentes para gerir os processos de emissão e “queima”. Isso aumenta a confiabilidade, pois todos podem auditar os contratos de forma independente. No entanto, algumas stablecoins atreladas a criptomoedas são geridas por Organizações Autónomas Descentralizadas (DAOs), onde a comunidade pode votar por mudanças no projeto. Nesse caso, devemos envolver-nos com o projeto ou simplesmente confiar nas decisões da DAO.
- Stablecoins algorítmicas
As stablecoins algorítmicas adotam uma abordagem diferente, eliminando a necessidade de reservas. Em vez disso, algoritmos e contratos inteligentes gerem o fornecimento dos tokens emitidos, de maneira semelhante à política monetária de um banco central. Este modelo é bem mais raro do que os de stablecoins atreladas a criptomoedas ou moedas fiduciárias e a sua implementação é mais complicada.
Basicamente, um sistema de stablecoin algorítmica reduzirá o fornecimento do token quando o preço cair abaixo do valor da moeda fiduciária a qual está atrelado. Isso pode ser feito através de staking bloqueado, queima ou recompras (buy-backs). Se o preço ultrapassar o valor da moeda fiduciária, novos tokens entram em circulação para reduzir o valor da stablecoin.
Quais são as vantagens das stablecoins?
As stablecoins oferecem uma ferramenta versátil e poderosa para investidores, traders e usuários de criptomoedas. E, como tudo o que tem a ver com investimentos, têm vantagens mas também desvantagens. As suas principais vantagens são:
1. As stablecoins podem ser usadas para pagamentos diários. Estabilidade é algo valorizado por lojas, empresas e indivíduos. Por conta da volatilidade, as criptomoedas não são amplamente utilizadas para processamento de pagamentos. As grandes stablecoins têm um histórico confiável em termos de manutenção do valor atrelado, tornando-as bastante seguras e adequadas para uso diário.
2. A stablecoins contam com os benefícios de serem baseadas em blockchains. É possível enviar stablecoins para qualquer pessoa que tenha uma carteira de criptomoedas (que pode ser criada gratuitamente e em poucos segundos). Além disso, é praticamente impossível a ocorrência de gastos duplos ou de falsas transações. Todas essas qualidades tornam as stablecoins incrivelmente versáteis.
3. Stablecoins podem ser usadas por traders e investidores para proteger os seus portfólios (hedge). Alocar uma percentagem de um portfólio para moedas estáveis é uma maneira eficaz de reduzir os riscos. O nosso portfólio como um todo será mais resistente às oscilações de preços de mercado e também teremos fundos à mão caso apareça uma boa oportunidade. Num período de queda do mercado, também podemos vender criptomoedas por stablecoins e recomprá-las a um preço mais baixo (shorting). As stablecoins permitem entrar e sair de posições de forma conveniente, sem necessidade de retirar os seus fundos da blockchain.
Apesar de seu potencial para incentivo da adoção geral de criptomoedas, as stablecoins ainda têm algumas limitações:
1. Não há garantia de que uma stablecoin manterá seu valor atrelado. Embora alguns grandes projetos tenham um ótimo histórico, também houve projetos que falharam. Quando uma stablecoin apresenta problemas constantes para manter o seu valor de atrelamento, ela pode perder todo o seu valor.
2. Falta de transparência. Tanto o Tether (USDT) quanto o USD Coin (USDC) ainda não lançaram auditorias públicas completas e a maioria das grandes stablecoins fornece apenas alguns atestados regulares. Contadores particulares atuam em nome dos emissores da stablecoin.
3. As stablecoins com colateralização fiduciária (fiat) são geralmente mais centralizadas do que outras criptomoedas. Uma entidade central é responsável pela criptomoeda e detém o valor de garantia. Ela também pode estar sujeita à regulação financeira externa. Isso oferece um controle significativo sobre a stablecoin. Além disso, é preciso confiar que o emissor realmente possui as reservas divulgadas.
4. Moedas cripto-colateralizadas e não-colateralizadas dependem muito da sua comunidade para funcionar. Mecanismos de governança abertos são comuns em projetos cripto. Ou seja, os utilizadores têm influência no desenvolvimento e execução de cada projeto. Sendo assim, ou nos envolvemos diretamente ou simplesmente temos que confiar nos desenvolvedores e na comunidade para gestão responsável do projeto.
Casos de uso das stablecoins
Vamos conferir mais detalhes sobre duas stablecoins populares no mercado: BUSD e DAI.
A Binance USD (BUSD) é uma stablecoin atrelada ao dólar (USD), criada pela parceria entre a Paxos e a Binance. O Departamento de Serviços Financeiros do Estado de Nova York (NYSDFS) regula o BUSD e atestados regulares confirmam que as reservas fiduciárias são iguais ao fornecimento de BUSD no mercado. No site da Paxos, é possível emitir novos BUSD ou queimar BUSD pelo valor colateral subjacente. Este mecanismo permite que os traders de arbitragem mantenham o valor de atrelamento do BUSD.
Por outro lado, a DAI é uma das mais famosas stablecoins atreladas a criptomoedas que acompanha o valor do USD na blockchain Ethereum. A moeda é gerida pela comunidade MakerDAO, que detém o token de governança MKR. Podemos usar o token MKR para criar e votar em propostas de alterações do projeto.
O token DAI é sobrecolateralizado para lidar com a volatilidade das criptomoedas e os utilizadores entram em Posições de Dívida Colateralizada (CDPs – Collateralized Debt Positions) que gerem o seu valor de garantia (colateral). Todo o processo é executado através de contratos inteligentes.
As stablecoins são reguladas?
Devido à sua capacidade única de combinar moedas fiduciárias e criptomoedas, as stablecoins atraíram o interesse de órgãos reguladores em todo o mundo. Como mantêm um preço estável, elas são úteis por outros motivos que não a especulação. Além disso, também podem ser transferidas internacionalmente de forma rápida e barata.
Alguns argumentam que as stablecoins podem atuar como concorrentes das moedas fiduciárias, embora não possam ser controladas diretamente pelo banco central de um país. Para prevenir essa possível concorrência, alguns países já tentaram a criação das suas próprias stablecoins.
Como a stablecoin é um tipo de criptomoeda, ela provavelmente funcionará sob os mesmos parâmetros reguladores que as criptomoedas na sua jurisdição local. A emissão de stablecoins com reservas fiduciárias também pode precisar da aprovação de órgãos reguladores.
Considerações finais
Atualmente, é difícil encontrar um investidor ou trader que não tenha ou não use stablecoins. Geralmente, os traders armazenam stablecoins em corretoras de criptomoedas (exchanges) para que possam capitalizar rapidamente novas oportunidades de mercado. Como mencionado anteriormente, elas também são muito úteis para entrar e sair de posições sem necessidade de efetuar saques em moedas fiduciárias.
Além de trading e investimentos, são usadas para pagamentos, transferências internacionais ou geração de renda passiva através do staking no ecossistema DeFi.
Mesmo sendo parte integrante do setor cripto e possibilitando a criação de um novo sistema financeiro, não subestime os riscos associados às stablecoins. Muitos projetos fracassaram por motivos como falha no atrelamento, reservas inexistentes ou problemas judiciais. Portanto, lembre-se: embora as stablecoins sejam incrivelmente versáteis, continuam a ser criptomoedas e apresentam riscos semelhantes; podemos mitigar os riscos diversificando o nosso portfólio, mas devemos fazer as nossas próprias pesquisas antes de investir.
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