Na parte 4 do guia de Trading de Criptomoedas para iniciados (se ainda não leu as primeiras partes, comece aqui) vamos abordar conceitos básicos de análise técnica.
Vale lembrar que o Guia de trading de criptomoedas, baseado nos conteúdos da Binance Academy, tem como intuito ajudar aqueles que desejam entrar no mundo de negociação de ativos digitais.
Parte 4 do Guia de Trading de Criptomoedas
O que é uma posição long?
Uma posição long significa comprar um ativo com a expetativa de que seu valor suba. As posições long são frequentemente usadas no contexto de produtos derivativos ou Forex, mas aplicam-se a basicamente qualquer classe de ativos ou tipo de mercado. A compra de um ativo no mercado spot, na esperança de que o seu preço suba, também constitui uma posição long.
Abrir posições long num produto financeiro é a maneira mais comum de investimento, especialmente para os que estão a começar. Estratégias de trading de longo prazo, como ‘buy and hold’, baseiam-se no pressuposto de que o valor do ativo irá aumentar. Sendo assim, comprar e fazer “holding” (manter) é basicamente manter uma posição long por um período de tempo prolongado.
No entanto, operar em long não significa, necessariamente, que o trader espera lucrar com um movimento de subida de preço. Veja-se os tokens alavancados, por exemplo. O BTCDOWN tem uma relação inversa com o preço do Bitcoin. Se o preço do Bitcoin subir, o preço do BTCDOWN cai. Se o preço do Bitcoin cair, o preço do BTCDOWN sobe. Ou seja, entrar numa posição long de BTCDOWN é equivalente à expectativa de um movimento de queda no preço do Bitcoin.
O que é uma posição short?
Uma posição short significa vender um ativo com a intenção de comprá-lo novamente, mas a um preço mais baixo. O shorting está intimamente relacionado com o chamado margin trading, como pode acontecer com o empréstimo de ativos. No entanto, também é muito utilizado no mercado de derivativos e pode ser feito com uma posição spot simples. Então, como funciona o shorting?
Quando se trata de shorting no mercado spot, é bem simples. Digamos que já temos Bitcoin e esperamos que o preço caia. Vendemos o nosso BTC por USD, planeando recomprá-lo posteriormente a um preço mais baixo. Nesse caso, estamos basicamente a entrar numa posição short de Bitcoin, pois estamos a vender a um preço alto para recomprar por um valor menor.
Muito simples. Mas… e o shorting com fundos emprestados? Vamos ver como funciona. Neste caso, realizamos um empréstimo de um ativo que acreditamos que perderá valor – por exemplo, uma ação ou uma criptomoeda. Vendemo-lo imediatamente; se a transação ocorrer como esperado e o preço do ativo cair, compramos de volta a mesma quantidade do ativo emprestado. Assim, pagamos os ativos emprestados (e os juros) e lucramos com a diferença entre o preço da venda inicial e o preço da recompra.
Então, como funciona o shorting de Bitcoin com fundos emprestados? Vejamos um exemplo: colocamos o valor colateral (garantia) necessário para empréstimo de 1 BTC e vendemos, imediatamente, por $10.000. Agora temos $10.000. Digamos que o preço cai para $8.000. Nesse caso, compramos 1 BTC de volta e pagamos a nossa dívida de 1 BTC mais o valor de juros. Mas como inicialmente vendemos o Bitcoin por $10.000 e agora o recuperamos a $8.000, o nosso lucro é de $2.000 (não considerando o valor de juros e taxas de trading).
O que é o livro de ordens?
O livro de ordens é um conjunto das ordens atualmente abertas para determinado ativo, organizadas por preço. Quando criamos uma ordem que não é preenchida imediatamente, ela é adicionada ao livro de ordens. Essa ordem fica lá até ser completamente preenchida por outra ordem – ou cancelada.
Os livros de ordens variam de acordo com cada plataforma, mas geralmente contêm praticamente as mesmas informações. O número de ordens surge de acordo com os níveis de preços.
Quando se trata de corretoras de criptomoedas e trading online, as ordens no livro de ordens são emparelhadas por um sistema chamado “mecanismo de correspondência”. Este sistema é o que garante que as transações sejam executadas – imaginemos esse mecanismo como o “cérebro” da corretora. Esse sistema, juntamente com o livro de ordens, é essencial para o conceito de corretoras eletrónicas.
O que é a “profundidade” do livro de ordens?
A “profundidade” do livro de ordens (ou “profundidade do mercado”) refere-se à representação gráfica das ordens atualmente abertas no livro de ordens. Geralmente, o livro de ordens coloca ordens de compra de um lado e ordens de venda do outro, exibindo o valor cumulativo de profundidade num gráfico.
Em termos gerais, a “profundidade” do livro de ordens também se pode referir ao valor de liquidez que o livro de ordens pode absorver: quanto maior a profundidade do mercado, maior sua liquidez. Ou seja, um mercado mais líquido pode absorver ordens maiores sem um efeito considerável no preço. No entanto, se o mercado for menos líquido, ordens de grandes valores podem ter um impacto significativo no preço do ativo.
O que é uma “Market Order”?
Uma Market Order (ordem de mercado) é uma ordem de compra ou venda pelo melhor preço de mercado atualmente disponível. É basicamente a maneira mais rápida de entrar ou sair de um mercado.
Quando estamos a definir uma ordem a mercado, estamos basicamente a dizer “Gostaria de executar essa ordem imediatamente, com o melhor preço possível.”
A nossa ordem de mercado continuará a preencher ordens do livro de ordens até que todo o valor desejado seja preenchido. É por isso que grandes traders (“whales”) podem ter um impacto significativo no preço quando usam ordens de mercado. Uma ordem a mercado de grande valor pode efetivamente desviar a liquidez do livro de ordens. Como? Discutiremos isso no tópico sobre slippage.
O que é “slippage” em trading?
Existe algo que temos que estar cientes quando se trata de ordens de mercado – slippage. Quando dizemos que as ordens de mercado são preenchidas com o melhor preço disponível, isso significa que elas continuam preenchendo ordens do livro de ordens até que a ordem seja completamente preenchida.
Mas, e se não houver liquidez suficiente em torno do preço desejado para atender a uma ordem de mercado de grande valor? Pode haver uma grande diferença entre o preço que esperamos para a execução da ordem e o preço no qual ela é realmente preenchida. Essa diferença é chamada slippage.
Digamos que queremos abrir uma posição long de 10 BTC para uma altcoin. No entanto, essa altcoin tem um valor de capitalização de mercado relativamente baixo e está a ser negociada num mercado de baixa liquidez. Se usarmos uma ordem de mercado, ela continuará a preencher ordens do livro de ordens, até que todas as ordens de 10 BTC sejam preenchidas.
Num um mercado líquido, seríamos capazes de preencher a ordem de 10 BTC sem que o preço fosse afetado de forma significativa. Porém, neste caso, a falta de liquidez significa que talvez não existam ordens de venda suficientes no livro de ordens para a faixa de preços atual.
Portanto, quando a ordem de 10 BTC for totalmente preenchida, o preço médio pago pode acabar por ser muito mais alto do que o esperado. Ou seja, a falta de ordens de venda fez com que sua ordem a mercado movimentasse o livro de ordens para cima, na busca de correspondência por ordens que apresentavam preços maiores que o valor inicial.
Devemos ficar atentos ao slippage quando fizermos transações de altcoins, já que alguns pares de trading podem não apresentar liquidez suficiente para preencher a nossa ordem de mercado.
O que é uma “Limit Order”?
Uma Limit Order (ordem limite) é uma ordem de compra ou venda de um ativo a um preço específico ou melhor. Esse preço é chamado de preço limite. Uma “Limit Order” de compra será executada pelo preço limite ou inferior, enquanto uma Limit Order de venda será executada pelo preço limite ou superior.
Quando estamos a definir uma Limit Order, estamos basicamente a dizer “gostaria de executar essa ordem com esse preço específico ou melhor, mas nunca pior.”
O uso de uma Limit Order proporciona mais controlo sobre a entrada ou saída de um determinado mercado. Na verdade, ela garante que a nossa ordem nunca será atendida a um preço pior que o desejado. No entanto, existe também uma desvantagem: o mercado pode nunca atingir o preço definido, fazendo com que a ordem não seja preenchida. Em muitos casos, o utilizador pode acabar por perder uma boa oportunidade de trade.
A decisão de quando usar uma ordem limite ou ordem a mercado, varia de acordo com a estratégia de cada trader. Alguns usam apenas uma ou outra, enquanto outros usam ambas – dependendo das circunstâncias. O importante é entender como elas funcionam para que possamos tomar essa decisão.
O que é uma ordem “Stop-Loss”?
Agora que sabemos o que são as ordens limite e de mercado, vamos falar sobre ordens stop-loss. Uma ordem stop-loss é um tipo de ordem limite ou de mercado, mas que é ativada apenas quando um determinado preço é atingido. Esse preço é chamado stop price.
O objetivo principal de uma ordem stop-loss é limitar as possíveis perdas. Todas as transações precisam de ter um ponto de invalidação, um nível de preço que deve ser definido com antecedência. Quando o ativo atinge esse nível de preço, aceitamos que a nossa ideia inicial estava errada, o que indica que deveremos sair do mercado para evitar mais perdas. Portanto, de um modo geral, o ponto de invalidação é onde vamos definir a nossa ordem stop-loss.
Como funciona uma ordem stop-loss? Conforme referimos, a ordem stop-loss pode ser tanto uma ordem limite quanto uma ordem de mercado. É por isso que essas variantes também podem ser chamadas “ordens stop-limit” e “ordens stop-market”. O mais importante é entendermos que o stop-loss só é ativado quando um determinado preço for atingido (stop price). Quando o stop price é atingido, ele irá ativar uma ordem limite ou uma ordem de mercado. Basicamente, definimos um stop price para funcionar como um gatilho para ordem de mercado ou ordem limite.
No entanto, devemos estar cientes de um detalhe: sabemos que as ordens limite são preenchidas apenas pelo preço limite ou melhor, mas nunca pior. Se estivermos a usar uma ordem stop-limit como stop-loss e o mercado entrar em colapso, ele pode afastar-se muito rapidamente do preço limite, fazendo com que a ordem não seja preenchida. Por outras palavras, o stop price acionaria a ordem stop-limit, mas a ordem limite permaneceria não preenchida devido à forte queda do preço. É por isso que ordens stop-market são consideradas mais seguras do que ordens stop-limit. Elas garantem que, mesmo em condições extremas, possamos sair do mercado assim que o nosso ponto de invalidação seja atingido.
O que são os “makers” e “takers”?
Tornamo-nos um maker quando criamos uma ordem que não é preenchida imediatamente, mas é adicionada ao livro de ordens. Como a ordem está a adicionar liquidez ao livro de ordens, somos um “criador” (maker) de liquidez.
Normalmente, as ordens limite são executadas como ordens maker, mas não em todos os casos. Por exemplo, vamos supor que criamos uma Limit Order de compra com um preço limite consideravelmente mais alto do que o preço de mercado atual. Como definimos que a ordem pode ser executada pelo preço limite ou melhor, ela será executada considerando o preço de mercado (que é menor que o seu preço limite).
Tornamo-nos um taker quando criamos uma ordem que é imediatamente preenchida. A nossa ordem não é adicionada ao livro de ordens, mas é imediatamente correspondida a uma outra ordem nele existente. Como estamos a tirar liquidez do livro de ordens, somos um taker. Uma ordem a mercado sempre será taker, pois estamos a executar a nossa ordem com o melhor preço de mercado disponível no momento.
Algumas corretoras adotam um modelo multinível de taxas para incentivar os traders a fornecerem liquidez. Afinal, é do interesse das corretoras atraírem traders de grandes volumes – liquidez atrai mais liquidez. Nesses sistemas, os makers tendem a pagar taxas menores que os takers, já que são responsáveis por aumentar a liquidez. Nalguns casos, as corretores oferecem descontos de taxas aos makers.
O que é o spread de compra e venda?
O spread de compra e venda (“bid-ask spread”) é a diferença entre a maior ordem de compra (bid) e a menor ordem de venda (ask) para um determinado mercado. É basicamente a diferença entre o preço mais alto que um vendedor está disposto a vender e o preço mais baixo que um comprador está disposto a pagar.
O spread de compra e venda é uma maneira de medir a liquidez de um mercado. Quanto menor o spread, maior a liquidez do mercado. O spread de compra e venda também pode ser considerado como uma forma de medir a oferta e procura de um determinado ativo. A oferta representa a venda (ask) e a procura representa a compra (bid).
Ao fazer uma ordem de compra a mercado, ela será preenchida com o menor preço disponível (ask). Por outro lado, quando criamos uma ordem de venda a mercado, ela será preenchida com o maior valor disponível (bid).
O que é um “gráfico de velas”?
Um gráfico de velas (“candlestick chart”) é uma representação gráfica do preço de um ativo num determinado período de tempo. Esse gráfico é composto por velas (candlesticks), cada uma representando o mesmo valor de tempo. Por exemplo, um gráfico de 1 hora mostra velas que representam, cada uma, período de uma hora. Um gráfico de 1 dia mostra velas que representam, cada uma, período de um dia e assim por diante.
Uma vela é composta por quatro pontos de dados: Open (abertura), High (máximo), Low (mínimo) e Close (encerramento) – esses pontos também são conhecidos como valores OHLC. A abertura e o encerramento são, respetivamente, o primeiro e o último preço registados para o período, enquanto que os pontos de mínimo e máximo representam o menor e o maior preço, registados nesse mesmo período.
Os gráficos de velas são uma das ferramentas mais importantes para análise de dados financeiros. O padrão de Candlesticks surgiu no Japão no século XVII, mas foi adaptado e refinado no início do século XX, por traders inovadores como Charles Dow.
A análise do gráfico de velas é uma das maneiras mais comuns de observar o comportamento do mercado de Bitcoin usando análise técnica.
O que é um padrão de gráfico de velas?
A análise técnica é baseada na suposição de que movimentos de preços anteriores podem indicar ações futuras dos preços. Então, como podem as velas ser úteis nesse contexto? A ideia é identificar padrões no gráfico de velas e criar estratégias de trading com base neles.
Os gráficos de velas ajudam os traders a analisar a estrutura do mercado e determinar se estamos num ambiente de mercado bullish (de alta) ou bearish (de baixa). Eles também podem ser usados para identificar áreas de interesse num gráfico, como níveis de suporte e resistência ou possíveis pontos de reversão. Estes são pontos no gráfico que geralmente acarretam um aumento nas atividades de trading.
Os padrões de velas também são uma ótima ferramenta de gestão de riscos, pois podem apresentar configurações de trading definidas e exatas. Como assim? Os padrões de velas podem definir metas de preço claras e pontos de invalidação. Isso permite que os traders criem configurações de trading muito mais precisas e controladas. Sendo assim, os padrões de velas são amplamente utilizados por traders de Forex e criptomoedas.
Alguns dos padrões mais comuns de velas incluem figuras de bandeiras, triângulos, cunhas, martelos, estrelas e padrões de Doji.
O que é uma linha de tendência?
A linha de tendência é uma ferramenta muito usada por traders e analistas técnicos. São linhas que ligam certos pontos de dados num gráfico. Normalmente, esses dados são o preço – mas nem sempre. Alguns traders também traçam linhas de tendência em indicadores e osciladores técnicos.
A ideia de desenhar as linhas de tendência é visualizar certos aspetos da ação do preço. Assim, os traders podem identificar a tendência geral e a estrutura do mercado.
Alguns traders usam linhas de tendência apenas para entender melhor a estrutura do mercado. Outros podem usá-las para criar estratégias de transações com base na interação das linhas de tendência com o preço.
As linhas de tendência podem ser aplicadas a um gráfico que mostra praticamente qualquer período de tempo. No entanto, como outras ferramentas de análise de mercado, as linhas de tendência costumam ser mais fiáveis quando usadas para intervalos de tempo maiores.
Outro aspeto que deve ser considerado é a força de uma linha de tendência. A definição convencional de uma linha de tendência diz que, para ser válida, ela deve tocar o preço pelo menos duas ou três vezes. Normalmente, quanto mais vezes o preço tocar (testar) uma linha de tendência, mais fiável ela pode ser considerada.
O que são o suporte e a resistência?
Suporte e resistência são alguns dos conceitos mais básicos relacionados com o trading e análise técnica.
Suporte é o nível em que o preço encontra um “piso”. Por outras palavras, um nível de suporte é uma área de procura elevada, na qual os compradores entram no mercado e fazem o preço subir.
Resistência é o nível em que o preço encontra um “teto”. Um nível de resistência é uma área de alta oferta, na qual os vendedores entram no mercado e provocam uma queda no preço.
Agora sabemos que suporte e resistência são níveis de aumento de procura e de oferta, respetivamente. No entanto, existem muitos outros fatores quando se trata de suporte e resistência.
Indicadores técnicos, como linhas de tendência, médias móveis, Bandas de Bollinger, Nuvens de Ichimoku e a Retração de Fibonacci também podem sugerir possíveis níveis de suporte e resistência. Na realidade, até aspetos da psicologia humana são usados. É por isso que traders e investidores podem abordar os conceitos de suporte e resistência de maneiras diferentes nas suas estratégias de trading.
No próximo artigo, iremos concluir este guia.
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