Esta semana vamos falar de um tema que tem estado na ordem do dia: os NFTs (tokens não-fungíveis), bem como algo que está de alguma forma relacionado, os chamados cripto-colecionáveis. À semelhança de artigos anteriores sobre criptomoedas, este é também adaptado da Binance Academy.
A criação do Bitcoin introduziu o conceito de “trustless”, que é quando não há necessidade de confiança entre os utilizadores na rede. Além disso, existe o conceito de escassez digital, que limita a disponibilidade de moedas. Até aqui, o custo de replicar algo no mundo digital era próximo de zero. Com o advento da tecnologia blockchain, a “escassez digital” programável tornou-se possível – e agora está a ser usada para mapear o mundo digital para o mundo real.
Os tokens não fungíveis (NFTs), também conhecidos como “cripto-colecionáveis”, expandem esta ideia. Ao contrário das criptomoedas, onde todos os tokens são criados igualmente, os tokens não fungíveis são únicos e têm uma quantidade limitada.
Os NFTs são um dos principais componentes de uma nova economia digital com base na tecnologia blockchain. Vários projetos estão a experimentar usar NFTs para diversos cenários, como jogos, identidade digital, licenciamento, certificados e artes plásticas. Além disso, também permitem a propriedade fracionária de itens de alto valor.
À medida que a emissão dos NFTs está a ficar mais fácil, novos tipos de ativos estão a ser criados todos os dias. Este artigo aborda o que são NFTs, para que podem ser usados e como um jogo chamado CryptoKitties congestionou a blockchain da Ethereum no final de 2017.
O que é um token não fungível (NFT)?
Um token não fungível (NFT) é um tipo de token criptográfico numa blockchain, que representa um ativo exclusivo. Podem ser ativos totalmente digitais ou versões tokenizadas de ativos do mundo real. Como os NFTs não são intercambiáveis entre si, eles podem funcionar como prova de autenticidade e de propriedade no âmbito digital.
“Fungibilidade” significa que as unidades individuais de um ativo são intercambiáveis e essencialmente indistinguíveis uma da outra. Por exemplo, moedas fiduciárias são fungíveis, porque cada unidade é intercambiável com qualquer outra unidade individual equivalente. Uma nota de dez euros é intercambiável com qualquer outra nota de dez euros genuína. Essa é uma propriedade fundamental para um ativo que visa atuar como um meio de troca.
A fungibilidade é uma propriedade desejável para a moeda, pois permite a troca livre e, teoricamente, não há uma forma de saber a história de cada unidade individual. No entanto, essa não é uma característica benéfica para itens colecionáveis.
E se, em vez disso, pudéssemos criar ativos digitais semelhantes à Bitcoin, mas adicionar um identificador exclusivo para cada unidade? Isso tornaria cada uma delas diferente de todas as outras unidades (ou seja, não fungíveis). Basicamente, essa é a definição de um NFT.
Como funcionam os NFTs?
Existem várias estruturas e sistemas para a criação e emissão de NFTs. O mais importante deles é o ERC-721, um padrão para emissão e negociação de ativos não fungíveis na blockchain da Ethereum.
Um padrão melhorado, mais recente, é o ERC-1155, o qual permite que um único contrato tenha tokens fungíveis e não fungíveis, abrindo uma nova gama de possibilidades. A padronização da emissão de NFTs permite um maior grau de interoperabilidade, o que acaba por beneficiar os utilizadores. Basicamente, isso significa que ativos exclusivos podem ser transferidos entre aplicações diferentes com relativa facilidade.
Se quiser armazenar e apreciar a beleza dos seus NFTs, pode fazer isso com a Trust Wallet. Assim como outros tokens de blockchain, os seus NFTs estarão num endereço. Vale a pena salientar que os NFTs não podem ser replicados ou transferidos sem a permissão do proprietário – nem mesmo pelo emissor!
Os NFTs podem ser negociados em mercados abertos. Esses mercados ligam compradores e vendedores e o valor de cada token é único. Naturalmente, os NFTs são propensos a mudanças de preço, em resposta à oferta e procura do mercado.
Mas como é que estas coisas podem ter valor? Assim como qualquer outro item valioso, o valor não é inerente ao objeto em si, mas é atribuído por pessoas que o consideram valioso. Essencialmente, “valor” é uma crença partilhada. Realmente não importa se é dinheiro fiduciário, metais preciosos ou um veículo – essas coisas têm valor porque as pessoas acreditam que sim. É assim que todos os itens valiosos se tornam… valiosos – porque seria diferente com colecionáveis digitais?
Para que podem ser usados os NFTs?
Os NFTs podem ser usados por aplicações descentralizadas (DApps) para emitir itens digitais exclusivos e cripto-colecionáveis. Os tokens podem ser itens colecionáveis, um produto de investimento ou qualquer outra coisa.
A existência de sistemas económicos em jogos não é uma novidade. E como muitos jogos online já tiveram e têm as suas próprias economias, o uso da blockchain para tokenizar ativos de jogos está apenas a dar um passo em frente. Na verdade, o uso de NFTs poderia potencialmente resolver ou mitigar o problema de inflação, que é muito comum em diversos jogos.
Enquanto os mundos virtuais já estão a prosperar, outro uso interessante dos NFTs é a tokenização de ativos do mundo real. Esses NFTs podem representar frações de ativos do mundo real que podem ser armazenadas e negociadas como tokens numa blockchain. Isso poderia introduzir uma certa liquidez, muito necessária em muitos mercados que, de outra forma, não teriam. Alguns exemplos são obras de arte, imóveis, itens colecionáveis raros, entre outros.
O setor de Identidade Digital também pode beneficiar das propriedades dos NFTs. Armazenar dados de identificação e propriedade na blockchain aumentaria a privacidade e a integridade dos dados para utilizadores em todo o mundo. Além disso, as transferências trustless e fáceis desses ativos podem ajudar a melhorar a economia global.
CryptoKitties e a Ethereum
Um dos primeiros projetos NFT que ganhou força significativa foi o CryptoKitties, um jogo construído na Ethereum que permite aos jogadores colecionar, criar e trocar gatos virtuais.
Cada CryptoKitty pode ter uma combinação de diversas características, como idade, raça ou cor. Sendo assim, cada um deles é único e não pode ser trocado. Além disso, eles são indivisíveis, o que significa que não há como dividir um token CryptoKitty em partes (como o gwei do ether).
O CryptoKitties ganhou notoriedade após congestionar a blockchain da Ethereum devido à alta atividade que despertou na rede. Até ao início de 2020, o valor recorde (All-Time High, ATH) do número de transações diárias na blockchain da Ethereum, ainda era oriundo do auge das CryptoKitties. É claro que o jogo causou um grande impacto na rede Ethereum, mas outros fatores também contribuíram para ele, incluindo o boom da Initial Coin Offering (ICO).
Embora seja um tópico que gera controvérsia, o CryptoKitties é um exemplo interessante e divertido de um caso de uso blockchain que não é uma moeda, mas algo usado para recreação e lazer. Coletivamente, esses gatos virtuais movimentaram milhões de dólares e algumas das unidades mais raras foram vendidas por centenas de milhares de dólares.
Projetos populares usando NFTs e cripto-colecionáveis
Muitos projetos diferentes já usam NFTs como itens colecionáveis e negociáveis. Vamos passar em revista alguns dos mais populares:
Decentraland é um mundo de realidade virtual descentralizado, onde os jogadores podem possuir e trocar pedaços de terra virtual e outros itens NFT dentro do jogo. O Cryptovoxels é um jogo semelhante no qual os jogadores podem construir, desenvolver e trocar propriedades virtuais.
Gods Unchained é um jogo de cartas colecionáveis em que as cartas são emitidas como NFTs na blockchain. Como cada carta digital é única, os jogadores podem negociá-las como se fossem cartas reais.
My Crypto Heroes é um RPG multijogador onde os jogadores podem fazer evoluir os seus heróis através de missões e batalhas. A diferença para outros MORPGs é que os heróis e itens do jogo são emitidos como tokens na blockchain da Ethereum.
Colecionáveis Binance. Os Colecionáveis Binance são NFTs emitidos em conjunto pela Binance e pela Enjin, em ocasiões especiais. Se deseja ter um, siga a Binance no Twitter e fique atento aos próximos eventos.
Os Crypto Stamps, ou selos criptográficos, são emitidos pelo Serviço Postal da Áustria e ligam o mundo digital ao mundo real. Estes selos são usados no transporte de correspondências, como qualquer outro selo comum, mas também são salvos como imagens digitais na blockchain da Ethereum. Ou seja, são itens digitais colecionáveis e negociáveis.
Considerações finais
Os colecionáveis digitais direcionam a tecnologia blockchain para rumos totalmente novos, deixando um pouco de lado as aplicações financeiras convencionais. Ao representar ativos físicos no mundo digital, os NFTs têm o potencial de ser uma parte vital, não apenas do ecossistema blockchain, mas da economia em geral.
São muitos os cenários de utilização possíveis e é bem provável que muitos programadores ainda venham a apresentar várias inovações empolgantes para esta promissora tecnologia.
Fonte: Binance Academy
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Tecnologia Blockchain: um guia para principiantes
Uma blockchain é um tipo especial de base de dados onde os dados podem ser apenas adicionados: ou seja, não podem ser removidos nem alterados. Como o nome sugere, uma blockchain assemelha-se a uma cadeia de blocos – esses blocos são fragmentos de informações adicionados à base de dados. Cada bloco retém um indicador para o bloco anterior e, geralmente, contém uma combinação de informações de transação, registos de data e hora e outros dados para confirmar a sua validade.
Como estão vinculadas, as entradas não podem ser editadas, excluídas ou modificadas de qualquer forma, pois isso iria invalidar todos os blocos seguintes.
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