Com bilhões de pessoas ao redor do mundo confinadas às suas casas, cafés e restaurantes fechados, festas e encontros sociais proibidos e muito tempo livre, não foi difícil prever que plataformas de ficção online seriam fortalecidas nestes meses. Um deles se destaca: Netflix. A empresa americana conseguiu aumentar seus assinantes em dezasseis milhões desde março.
Este grande aumento surpreendeu até mesmo analistas de mercado. Nem uma corretora de cambio —habituadas a estudar, analisar e efetuar previsões econômicas— teria conseguido prever o crescimento da plataforma. Os próprios executivos da empresa haviam estimado um crescimento de sete milhões de usuários para esta crise, mas a realidade superou qualquer expectativa. Uma das razões pelas quais ninguém esperava tal crescimento foi a desaceleração da taxa de novas adesões nos meses que antecederam o coronavírus. Agora, a pergunta é quantos dos novos usuários da Netflix manterão suas assinaturas a longo prazo, além do período de tempo em que tiveram que ficar em suas casas.
O tempo também jogou a favor da Netflix durante a quarentena, pois a quarentena obrigatória coincidiu com as estreias de novas temporadas de algumas das séries e produções mais famosas e bem-sucedidas da plataforma. Por exemplo, a nova temporada da série Ozark e o documentário Tiger King foi transmitido com grande sucesso em muitos países —tendo sido visto por mais de 60 milhões de pessoas, segundo dados da própria empresa— incluindo os Estados Unidos.
A tecnologia tirou proveito do coronavírus
O sucesso da Netflix não é um evento isolado no setor de tecnologia. Durante os meses de quarentena, a maioria das empresas que produzem ou comercializam produtos de tecnologia viram seu valor aumentar. Além de empresas dedicadas ao lazer, como Netflix, HBO ou Zoom, o gigante do comércio online —Amazon— e outras que prestam serviços mais profissionais, como a Microsoft, somaram graças ao aumento da demanda por seus produtos e serviços.
As tecnologias de videoconferência, por exemplo, têm experimentado um aumento muito grande em sua utilização por profissionais que não puderam se deslocar até seus escritórios. Além disso, estas tecnologias permitiram a interação social quando era proibido sair e encontrar amigos e familiares. Também, em muitos países tem sido a ferramenta através da qual as crianças puderam continuar recebendo aulas —as escolas foram fechadas—. Por tudo isso, pode-se dizer que as empresas de tecnologia conseguiram evitar a crise que muitos outros setores da economia ainda estão sofrendo.
Quanto tempo durará este sucesso?
No caso da Netflix, a administração da empresa prefere ser cautelosa. Existe a duvida que todos os novos assinantes mantenham suas contas ativas durante os próximos meses, quando não houver mais proibições de outras atividades. Além disso, temem que as plataformas de conteúdos de ficção sejam um dos primeiros gastos a serem renunciados pelas famílias afetadas pela crise, com o desemprego aumentando em todo o mundo. Assim, apesar dos bons dados destes meses, assumem que o sucesso pode ser temporário.
O resto das empresas de tecnologia, como Amazon, Microsoft, Intel, Alphabet ou Apple, evoluirão consoante os acontecimentos dos próximos meses. Se um novo surto de coronavírus ocorrer, as tendências positivas dos últimos meses podem se repetir. Mas nem a situação da saúde nem as consequências futuras de um hipotético novo surto estão ao alcance dos analistas. Como vimos desde março, os efeitos e consequências do coronavírus eram imprevisíveis e a solução para o problema criado pela aparição do vírus é igualmente imprevisível. O descobrimento de uma vacina nos próximos meses pode mudar tudo; um novo surto, também, mas com uma perspectiva muito mais negativa.
Os investidores que buscam sucesso nos próximos meses terão que acompanhar de perto as notícias sobre o coronavírus e, dependendo do que aconteceu nos últimos meses, as empresas de tecnologia poderão servir como termômetro para medir a temperatura dos mercados. Um dos índices de ações de referência —o NASDAQ 100 nos EUA— resistiu à crise muito melhor do que outros. As empresas listadas nele, em sua maioria empresas de tecnologia, tiveram um bom desempenho enquanto a economia mundial entrou em colapso por causa do coronavírus. Esse bom desempenho vai durar até 2021? É uma questão que só o tempo poderá responder.
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